NATHÁLIA SOUZA
JUIZ DE FORA, MG – Para enfrentar o segundo racionamento de água deste ano, moradores de Juiz de Fora (a 272 km de Belo Horizonte) estão apelando para medidas criativas.
A falta de água no município –o quarto maior de Minas Gerais, com 516 mil habitantes– afeta sobretudo bairros como a Cidade Alta, abastecido em grande parte pela represa de São Pedro, que está praticamente seca.
É lá onde vive o engenheiro civil Cézar Barra, que abriu um poço de três metros de profundidade em casa que bombeia água para uma caixa de 5.000 litros. O líquido é tratado com cloro, como nas piscinas, e depois distribuído para lavanderia, banheiros e jardim.
“Não dependo da água convencional para dar descarga, aguar as plantas, dar banho nos cachorros e lavar roupas, pisos e carro, por exemplo”, conta ele, que vem recebendo pedidos de orientação de conhecidos interessados em replicar a ideia.
Em época de chuva, Barra aproveita até a água que cai do telhado. Com isso, a economia da família, composta por cinco pessoas, é de 50%. “Segundo cálculos que fizemos, em um ano todo o investimento é restituído.”
No restaurante de Fabiano Ney, as alternativas também já estão dando resultado no bolso. “Descongelamos o frango e aproveitamos a água produzida para dar descarga. Já aquela gasta para lavar o alface, que sai limpinha, usamos para lavar o chão.” Ele guarda o líquido em galões.
Além disso, segundo Ney, os clientes utilizam materiais descartáveis e o sistema de descargas foi trocado por um mais econômico. As iniciativas permitiram uma redução de R$ 100 na conta mensal.
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SEM AULAS
Há cerca de um mês, a escola municipal Adhemar Rezende de Andrade precisou suspender as aulas durante um dia pela falta de água.
“Não lavamos as rampas, os alunos têm usado copos e talheres descartáveis e trazido água de casa”, diz o vice-diretor Paulo Raimundo.
Já a aposentada Elizabeth Pereira, 65, conta que precisou tomar um banho de balde pela primeira vez na vida este mês. Ela conta que chegou a ficar uma semana sem abastecimento.
“A água só chega aqui entre meia-noite e 6h e depois em curtos períodos do dia”, conta Elizabeth, também moradora da Cidade Alta. “A gente enche as vasilhas, garrafas pet e compra água. Faço almoço de manhã em quantidade suficiente para três dias”, afirma.
Segundo o diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama (empresa de água de Juiz de Fora), Marcelo Mello do Amaral, o racionamento é preventivo.
“A chuva dos últimos dias não foi suficiente para melhorar o nível dos mananciais. Temos previsão de tempo seco novamente, e o consumo acaba aumentando.”
Hoje, uma das principais represas da cidade, a João Penido, opera com 26% da capacidade. Já a barragem de Chapéu D’Uvas, recém-incorporada, está com 39%.
Pensando nisso, no último dia 20 a Câmara Municipal aprovou projeto de lei que proíbe a utilização de água tratada para limpar calçadas e fachadas em períodos de crise. A matéria segue para sanção do prefeito.