RIO DE JANEIRO, RJ – O jornalista Zuenir Ventura foi eleito nesta quinta (30) para a cadeira 32 ABL (Academia Brasileira de Letras), vaga desde a morte de Ariano Suassuna. Esta eleição encerra a série de três que ocorreram em menos de um mês.
O jornalista recebeu 35 de 37 votos. Os poetas Thiago de Mello e Olga Savary receberam um voto cada.
Zuenir já havia se candidatado à ABL ao menos três vezes, mas sempre retirou-se do pleito para evitar competir com amigos. Desta vez, mudou de vaga para ceder lugar ao historiador Evaldo Cabral de Mello, eleito na última quinta (23) à vaga de João Ubaldo Ribeiro. A dança das cadeiras foi acordada entre os apoiadores de Evaldo e os que votariam em Zuenir.
Ao final da sessão de votação, imortais que apoiaram a campanha por sua eleição, como Merval Pereira e Arnaldo Niskier, pareciam animados.
Zuenir foi repórter, editor e chefe de redação de veículos como as revistas “Visão” e “Veja”, o “Jornal do Brasil” e o site “No mínimo”. Hoje é colunista do jornal “O Globo”.
Seu livro mais recente é o romance “Sagrada Família” (2012), que concorreu ao Prêmio Jabuti, o mais importante prêmio de literatura no Brasil.
Seu livro mais conhecido é “1968 – O Ano Que Não Terminou” (1988), best-seller que narra os acontecimentos no Brasil desse ano de efervescência política e cultural. Zuenir costura a narrativa a partir de entrevistas, observações pessoais, pesquisa e acesso a materiais até então inéditos, como a fita com a gravação da reunião que decidiu pelo AI-5.
Venceu o Prêmio Jabuti de 1995 na categoria de reportagem pelo livro “Cidade Partida”, um retrato da violência no Rio de Janeiro. Zuenir passou dez meses frequentando a favela de Vigário Geral, palco de uma das mais notórias chacinas da história do Rio que resultou na morte de 21 pessoas pelas mãos da polícia em 1993. Em paralelo relata a organização da sociedade civil em combate à violência, que culminou na criação do movimento Viva Rio.
Ganhou os prêmios Esso de Jornalismo e Vladimir Herzog pela série de reportagens que escreveu para o “Jornal do Brasil” sobre o assassinato do seringueiro Chico Mendes, morto em 1988. A série foi reunida no livro “Chico Mendes: Crime e Castigo” (2003).
“Eu já tinha mais de trinta anos de carreira quando cheguei a Rio Branco, no Acre, sem saber direito quem era aquele fascinante personagem. Só depois que ele morreu, aos 44 anos, é que o Brasil descobriu haver perdido o que custa tanto a produzir: um verdadeiro líder. À frente dos seringueiros que organizou, ele desenvolveu táticas pacíficas de resistência com as quais defendeu a Amazônia, que a partir dos anos 70 sofrera um acelerado processo de desmatamento para dar lugar a grandes pastagens de gado”, disse o autor na época.
Zuenir nasceu em 1931 em Além Paraíba, Minas Gerais. Antes de cursar a faculdade de Letras, foi pintor, contínuo de banco, faxineiro e balconista em Nova Friburgo (RJ), onde viveu a partir dos 11 anos de idade.
Zuenir se junta a outros jornalistas na ABL, como Merval Pereira e Carlos Heitor Cony.