JOHANNA NUBLAT BRASÍLIA, DF – Falhas diversas no pré-natal fizeram com que o país registrasse, em 2012, 11.316 casos de sífilis congênita, situação em que a gestante infectada transmite a doença para o seu bebê. Naquele ano, a taxa de incidência da doença congênita foi de 3,9 casos por 1.000 nascidos vivos, segundo informa um estudo publicado no documento “Saúde Brasil”, do Ministério da Saúde. A meta, para o Brasil e outros países das Américas, é reduzir esse índice para até 0,5 -a partir do qual, a doença não é mais considerada um problema de saúde pública.

A sífilis congênita pode provocar a perda da gravidez e doenças importantes no bebê, que afetam coração e audição, por exemplo. E pode ser evitada em quase 100% dos casos, desde que corretamente identificada e tratada. Além do caso da sífilis em bebês, o governo identificou 16.930 casos da doença em grávidas em 2012 -número considerado muito subestimado. Como exemplo, para 2011 eram esperados 28,5 mil casos da doença em grávidas, mas apenas metade disso foi registrado. No período avaliado no estudo, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas e Distrito Federal apresentaram taxas de sífilis congênita maior que a taxa identificada em gestantes, indício de que a doença não está sendo diagnosticada antecipadamente nas grávidas.

PRÉ-NATAL

Jarbas Barbosa, secretário de vigilância em saúde do ministério, diz que os dados “revelam a necessidade de qualificação do pré-natal” e pode ser explicada por um conjunto de fatores. Os principais, diz Barbosa, são a não realização do teste para sífilis, a reinfecção da gestante (que pode ocorrer caso o parceiro não seja tratado) e o receio de utilização da penicilina (tratamento indicado para a sífilis) em unidades básicas de saúde.

Segundo o secretário, há um mito a respeito do uso da penicilina em unidades básicas, pelo eventual e raro risco de choque anafilático, e muitos profissionais preferem encaminhar a grávida para se tratar em outra unidade. Nesse momento, há o risco de a mulher não realizar o tratamento. “Temos um esforço para ampliar o uso da penicilina e desfazer o mito. Uma das dificuldades de se eliminar a sífilis congênita na América Latina é esse”, afirma o secretário. Barbosa diz que os dados de 2013 e 2014 -ainda não fechados- podem já apresentar alguma melhora frente ao esforço realizado de ampliação das testagens por meio do teste rápido e do Rede Cegonha.

Em 2013, 2,9 milhões de testes rápidos para a sífilis foram distribuídos pelo governo federal. Cerca de 2,8 milhões de mulheres ficam grávidas a cada ano no Brasil. O secretário disse que é preciso um esforço para acelerar a chegada de equipamentos como esses à ponta.