Colocar na mesma frase “baile da saudade” e “vigor” pode soar estranho. O show que o baixista inglês Peter Hook, 58, ex-New Order e ex-Joy Division, oferece, no entanto, combina exatamente as duas coisas. O baixista tocou na madrugada deste sábado (1º), no Clash Club, em São Paulo, os discos “Low-Life” (1985) e “Brotherhood” (1986), ambos do New Order, na íntegra. Hook, fora do New Order desde 2007 – a saída foi marcada por brigas com o vocalista e guitarrista Bernard Sumner–, está em turnê com o seu projeto solo, chamado Peter Hook & The Light.

O grupo se dedica a tocar em shows todos os álbuns das bandas de que Hook fez parte, em ordem cronológica –agora estão no terceiro e no quarto do New Order. Seguindo o projeto, Hook apresentou no Brasil, em 2011, “Unknown Pleasures” (1979), primeiro disco da carreira do Joy Division –também visualmente célebre pela capa com desenho de ondas de rádio, a estampa mais frequente nas camisetas da plateia paulistana neste sábado.

No ano passado, foi a vez de tocar por aqui os dois primeiros LPs do New Order. Entre os membros da banda, está Jack Bates, baixista filho de Hook, que se destaca no palco principalmente por ter incrível semelhança física com o pai. Ironicamente, apesar do nome “The Light”, nem sempre era possível, porém, ver bem os integrantes do grupo, pouco iluminados em relação a Hook. No foco central, o baixista concentra as atenções, cantando e deixando os fãs com o queixo caído nos solos de baixo.

O segundo a conseguir puxar mais luz é o guitarrista David Potts, parceiro de Hook na banda Monaco (projeto paralelo ao New Order nos anos 1990). Potts divide os vocais com Hook em algumas canções.

O programa teria tudo para ser monótono: as canções do repertório são conhecidas de antemão pela plateia, que sabe até em que ordem virão, já que o show respeita a sequência com que foram dispostas nos LPs. Para completar, a banda faz interpretações bastante fiéis às versões registradas em disco. O início do show, no entanto, foge à lista de músicas dos álbuns do New Order. É um baile da saudade dedicado ao Joy Division.

Daí, claro, “Love Will Tear Us Apart”, por si só, produz uma catarse que mantém o público na mão para o resto da jornada. Talvez por isso, a falta de grandes novidades na execução de “Low-Life” e “Brotherhood” não disperse a plateia, que ficou atenta às quase três horas de show, se apertando na pista de dança da casa lotada. Os hits “The Perfect Kiss” e “Bizarre Love Triangle”, principais sucessos desses discos, foram cantados em coro pelo público, com as mãos erguidas. “É assim que a gente toca ‘The Perfect Kiss'”, gritou Hook ao microfone, orgulhoso, enquanto era aplaudido no final da música. Se faltava conquistar algum fã, terminou a noite repetindo “Love Will Tear Us Apart”.

Acostumado ao público brasileiro –só nos últimos sete anos, fez quatro visitas para tocar no país–, Peter Hook voltou para o bis com uma camisa 9 da seleção, com seu nome estampado nas costas. De despedida, lançou a camiseta à plateia, onde sobraram tapas e empurrões para levar a lembrança para casa. Seguindo o ritmo do projeto, como Hook disse que pretende fazer, os que perderam a camiseta poderão convocar a revanche para o ano que vem, quando o baixista deve estar tocando “Technique” (1989) e “Republic” (1993).