SAMANTHA LIMA
RIO DE JANEIRO, RJ – Mergulhada em dificuldades financeiras e em recuperação judicial, a mineradora MMX, controlada por Eike Batista, anunciou prejuízo de R$ 1,89 bilhão no segundo trimestre.
A perda bilionária reflete o reconhecimento de uma baixa de R$ 1,8 bilhão no valor dos ativos, que a empresa foi obrigada a fazer, além da queda no preço do minério de ferro, da ordem de 10% no segundo trimestre.
O prejuízo não trouxe, ainda, os efeitos da interrupção da produção, que só ocorreu em setembro.
O reconhecimento da perda contábil, chamado “impairment”, é um ajuste necessário quando a empresa admite que determinado ativo tem projeção de receitas futuras menor do que o esperado ou, ainda, que seu valor potencial de venda é inferior ao valor registrado no balanço patrimonial.
Uma vez reconhecida, a baixa precisa ser lançada no balanço. Traz, ainda, impacto financeiro, uma vez que aparece como despesa no trimestre em que é feita.
Nos seis primeiros meses do ano, o prejuízo acumulado da MMX é de R$ 1,96 bilhão, ante perda de R$ 506 milhões no primeiro semestre de 2013.
No segundo trimestre, enquanto ainda estava operacional, a MMX chegou a ter receita 21% maior, de R$ 141 milhões, ante R$ 116 milhões no trimestre anterior.
No ano, a receita acumulada, de R$ 257 milhões, é 49,8% abaixo dos R$ 512 milhões obtidos no primeiro semestre de 2013.
Em decorrência da menor demanda, o preço mundial do minério de ferro saiu do patamar de US$ 120, ao fim do primeiro trimestre, para US$ 91 em maio, observa a empresa. Hoje, a cotação está pouco acima de US$ 80, o pior patamar desde o período de crise, em 2009.
Tal cotação torna inviável a extração do minério em projetos de maior custo, como o caso da MMX, mas afeta também as grandes mineradoras: na quinta-feira, a Vale anunciou prejuízo de R$ 3,4 bilhões, principalmente em decorrência da queda dos preços.
Em setembro, a MMX decidiu interromper a produção porque tornou-se inviável financeiramente para a empresa extrair minério e vender. A mineradora também alega problemas com licenciamentos ambientais.
Diante da complicada situação financeira, restou à MMX entrar com pedido de recuperação judicial em 16 de outubro, o que foi aceito pela Justiça mineira no dia 22.
A mineradora é a terceira empresa de Eike Batista a entrar em recuperação desde o ano passado, depois da Ogpar (ex-OGX) e do estaleiro OSX.
‘INSOLVENTE’
Com a realização do “impairment”, a MMX passou a ter patrimônio líquido negativo em R$ 563 milhões.
Para Eric Barreto, professor do Insper e sócio da M2M Escola de Negócios, ao dar baixa nos ativos e passar a ter patrimônio líquido, a situação da MMX pode ser considerada de insolvência, uma vez que a empresa tem mais dívidas do que ativos.
Sérgio Bermudes, advogado de Eike Batista, nega que a situação da empresa seja de insolvência. “Para avaliar insolvência, é necessário considerar outros aspectos, como perspectivas negociais e operacionais. A empresa apresentou seu plano de recuperação judicial e, por isso, todas as contestações de dívida ficam suspensas. Juridicamente, essa baixa de ativo não tem significado”, disse.
Na MMX, ninguém foi localizado para comentar.