Depois de a presidente da Petrobras, Graça Foster, ter sido acusada de mentir em depoimento à CPI sobre o recebimento de propina por funcionários da empresa, a companhia divulgou nota, nesta sexta-feira (21), explicando que a executiva omitiu a informação atendendo à imposição de sigilo ao caso, feita pelo Ministério Público Federal. Na última segunda-feira (17), Graça admitiu ter recebido, em maio, da fabricante de plataformas SBM Offshore, a informação de que o Ministério Público da Holanda havia descoberto os pagamentos de propinas a funcionários da petroleira, feitos pelo representante da fornecedora no Brasil.

Até então, a Petrobras limitava-se a dizer que não havia descoberto nada em sua apuração interna, aberta logo após a denúncia ter sido revelada, em fevereiro. Depois da revelação de segunda-feira, parlamentares da oposição acusaram Graça de mentir à CPI mista, a qual compareceu em em 11 de junho. Na ocasião, o deputado Marco Maia (PT-RS) perguntou se a Petrobras estava respondendo a alguma “ação no exterior ou no Brasil por conta dessa denúncia”. Graça negou: “Não fomos informados”. Na mesma sessão da CPI, Maia e outros parlamentares insistiram para que Graça desse informações a respeito das denúncias. A presidente argumentava que a apuração interna da Petrobras não havia descoberto irregularidades. Antes de ir à CPI mista (formada por deputados e Senadores), Graça havia comparecido à CPI exclusiva do Senado.

O depoimento ocorreu em 27 de maio, quatro dias depois de ter recebido ligação do presidente da SBM avisando sobre o caso. Ela disse apenas que havia eliminado a ex-fornecedora da lista de convidados para futuras licitações, sem dizer por que tomou tal decisão. Na nota divulgada nesta sexta-feira, a Petrobras afirmou que recebeu, em 23 de maio, ligação do presidente da SBM narrando a descoberta dos procuradores e, três dias depois, mesmo sem ter recebido um comunicado formal, repassou a informação ao Ministério Público Federal do Rio. Segundo a Petrobras, na mesma data, a procuradoria “decretou formalmente que as investigações relacionadas à SBM estavam correndo sob sigilo, o que impediu a Petrobras se manifestar sobre o assunto a fim de não atrapalhar as investigações”.

A SBM iniciou em 2012 uma investigação sobre suspeita de ter pago propina em sete países, entre eles o Brasil. As denúncias de corrupção envolvendo a SBM vieram à tona com o depoimento anônimo, publicado no site colaborativo Wikipedia, de um suposto ex-funcionário da companhia. Segundo o relato, a SBM descobriu ter feitos pagamentos suspeitos no valor de US$ 139 milhões no Brasil. Em meados do ano, a fornecedora da Petrobras disse que os pagamentos foram todos feitos ao representante comercial no Brasil, mas que não era possível afirmar se houve irregularidade. Na semana passada, o Ministério Público holandês revelou ter feito acordo com a SBM para encerrar as investigações de propina pagas pela companhia em quatro países, entre eles o Brasil. Segundo a nota da Petrobras, a revelação feita na última segunda se explica porque, com a divulgação do acordo fechado entre o MP holandês e a SBM, “entendeu-se que a menção ao recebimento dessas comunicações não estaria mais sob sigilo”.