SÃO PAULO, SP – Morto em abril, aos 87 anos, o escritor colombiano Gabriel García Márquez não teve, em vida, uma relação tranquila com os Estados Unidos -crítico do imperialismo norte-americano, teve entrada barrada no país mesmo depois de ganhar o prêmio Nobel por “Cem Anos de Solidão”, em 1982.
No entanto, a Universidade de Texas, que possui uma das maiores coleções literárias dos EUA, acaba de adquirir diversos objetos e manuscritos de García Márquez, informa o “The New York Times”.
Entre os objetos comprados dos herdeiros do escritor, estão duas máquinas de escrever, a primeira versão de “Cem Anos de Solidão” entregue à editora, cadernos e álbuns de foto. Eles serão armazenados junto com as coleções de nomes como Ernest Hemingway, William Faulkner, Jorge Luis Borges e James Joyce.
“É quase como se Joyce encontrasse García Márquez, cuja influência no século 20 de alguma forma espelhou a sua própria”, afirma Steve Ennis, diretor da biblioteca Harry Ramson, da universidade.
A família e a universidade não quiseram informar o preço do acordo.
Se estivesse vivo, o colombiano não teria ficado feliz com a aquisição. “É como ser pego de cuecas”, disse o escritor em entrevista à revista “Playboy” em 1983, sobre a perspectiva de acadêmicos analisarem seus manuscritos.
“É uma janela aberta para o laboratório de um alquimista que não amaria a ideia de ter suas receitas reveladas”, afirma Jose Montelongo, especialista em literatura latino-americana da própria Universidade do Texas, que fez parte da equipe que visitou a casa do escritor na Cidade do México para avaliar os objetos. “Elas mostram as fraquezas, as versões descartadas, as palavras eliminadas. Você realmente vê as dificuldades da criação”.
De acordo com uma biografia publicada em 2009 por Gerald Martin, García Márquez destruiu seus escritos diários da época de “Cem Anos de Solidão”.
“Meu pai era um perfeccionista, e um perfeccionista não mostra trabalho em progresso”, um de seus dois filhos, Rodrigo García, disse em entrevista.