SÃO PAULO, SP – O papa Francisco discursou nesta terça-feira (25) no Parlamento Europeu e condenou a cultura do descarte e do consumo excessivo no continente. Francisco ainda defendeu a importância da família e falou sobre os imigrantes e o extremismo. O papa disse que está na hora de parar de tratar as pessoas como “objetos” e que ninguém pode ser “jogado fora quando não serve mais porque ficou velho, fraco ou doente.” “Vocês, na vossa vocação de parlamentares, são chamados também a uma missão que os grandes bancos podem achar inútil: preocupem-se com a cura da fragilidade dos povos e das pessoas. Cuidar da cura da fragilidade mostra força e tenacidade, mostra luta e fecundidade em meio a um modelo funcionalista e privado que conduz, inexoravelmente, à cultura do descarte”, declarou.

O papa Francisco disse que a impressão geral transmitida pelo continente é “a de uma avó, uma Europa que já não é fértil nem viva”, enquanto o mundo se tornou “cada vez menos eurocêntrico”. “Chegou o momento de abandonar a ideia de uma Europa assustada e dobrada sobre si mesma, para que seja um ponto de referência importante para toda a humanidade”, ressaltou em um longo discurso de tom muito pessoal e bastante crítico.

VISITA

A visita de quatro horas, a mais curta de um papa ao exterior, não prevê nenhum encontro com católicos, para a decepção dos fiéis que acompanharam o discurso em um telão montado na catedral de Estrasburgo, na França. Para compensar a decepção, o Vaticano prometeu uma visita ao país em 2015. Os fiéis aplaudiram quando viram no telão o papa aterrissar em Estrasburgo, pouco antes das 10h (7h de Brasília). Ele foi recebido em nome do governo francês pela ministra da Ecologia, Ségolène Royal, a número três do governo. Em um breve momento de emoção, o Papa recebeu uma senhora alemã de 97 anos que o hospedou em 1985, quando ele aprendia alemão.

Francisco, como todos os convidados dos parlamentares, assinou o livro de honra do Parlamento e escreveu que deseja que o “Parlamento Europeu seja cada vez mais a sede onde cada membro conheça e faça com que a Europa seja consciente sobre seu passado, espere com confiança o futuro para viver com esperança o presente”. Após seu discurso aos parlamentares dos 28 países da UE, ele atravessou o rio para entrar no Conselho da Europa, uma organização intergovernamental que representa 47 Estados. Acompanhados por um violão, alguns fiéis cantaram músicas cristãs, bloqueados atrás das barreiras de segurança do Conselho da Europa.

ABORTO E EUTANÁSIA

“O cristianismo não é uma ameaça para o caráter laico do Estado ou a independência das instituições da Europa, mas sim um enriquecimento”, disse. O papa criticou especialmente o individualismo e o consumismo, a falta de solidariedade, a burocracia, que reduzem os homens e mulheres “a meros parafusos de uma engrenagem que os trata como bens de consumo”. Em uma condenação indireta do aborto e da eutanásia, ele citou “o caso dos doentes terminais, os idosos que são abandonados e deixados sem cuidados, as crianças que são mortas no ventre da mãe”. Muito aplaudido pelos parlamentares em diversos momentos de seu discurso, o papa ainda ressaltou a importância da unidade familiar. “A família unida, fértil e indissolúvel traz consigo elementos fundamentais para dar esperança ao futuro. Sem essa solidez é como construir sobre a areia, com graves consequências sociais”, disse.

IMIGRANTES

Francisco renovou o apelo feito em julho de 2013 na ilha italiana de Lampedusa: “Não podemos tolerar o fato de o Mediterrâneo estar se tornando um grande cemitério! Nos barcos que chegam diariamente às costas europeias, há homens e mulheres que precisam de acolhimento e ajuda”. Segundo o pontífice, a Europa deve implementar “leis que, ao mesmo tempo, protejam os direitos dos cidadãos europeus e garantam o acolhimento dos migrantes”. Ele ainda criticou o silêncio de muitos membros da comunidade internacional enquanto “comunidade e pessoas são objetos de bárbara violência: caçadas em suas próprias casa e pátrias, vendidas como escravos, mortas, decapitadas crucificadas e queimadas vivas”.

EXTREMISMO

Segundo o líder da Igreja Católica, se a Europa pudesse resgatar as “próprias raízes religiosas poderia facilmente ser imune à expansão dos extremistas no mundo”. Ele afirmou que essa medida é necessária porque é o “esquecimento de Deus e não sua glorificação é o que causa a violência”. De acordo com ele, o continente precisa defender a democracia neste momento histórico, que tanto grandes empresas internacionais e o extremismo representam uma ameaça. Segundo o pontífice, “os grandes ideais que inspiraram a Europa parecem ter perdido a força de atração em favor de técnicos burocráticos em suas instituições”.