MONIQUE OLIVEIRA
SÃO PAULO, SP – A Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) proibiu nesta quarta-feira (26) o consumo de álcool nas festas na universidade até que seja pensado um modelo consciente de consumo.
A decisão foi tomada em votação da congregação da instituição que avaliou o relatório da comissão que investiga os recentes casos de estupro denunciados, além de relatos de intolerância religiosa, étnica e de homofobia.
“Não terão festas e todo o tipo de álcool está proibido”, diz José Costa Auler, diretor da FMUSP, em conversa a jornalistas após a reunião, que foi fechada.
A proibição vai na contramão do que indicou o presidente da comissão, o professor Milton de Arruda Martins. Ele afirmou em visita ao Ministério Público na semana passada que a proibição apenas resolveria o problema institucional e não da cultura de abuso vigente em alguns setores da instituição -já que as festas acontecerão em outro lugar.
“Todo mundo sabe que lá fora é pior”, diz Felipe Scalisa, membro do coletivo Negss (Núcleo Estudos de Gênero Sexualidade e Saúde) e aluno do terceiro ano de medicina, que estava presente na reunião da congregação.
“Perguntei na minha fala na congregação se os presentes conheciam o churrasco da invasão”, diz Scalisa. “Disseram que não conheciam, mas é o mesmo trote feito dentro da faculdade antes da morte do Edson [Edson Tsung Chi Hsueh por afogamento durante trote em 1999], só que, ao invés de ser feito aqui dentro, é em um sítio”, disse.
O Núcleo de Direitos Humanos foi aprovado. Ele terá independência da instituição. O nome do Pedro Dallari, advogado e membro da Comissão Nacional da Verdade, foi cogitado para ajudar a consolidar o núcleo.
A ideia inicial da comissão, de aprovar o ano de direitos humanos na universidade em 2015, não foi aprovada pelos membros.
Estavam presentes na reunião diretor da Faculdade de Medicina, o reitor, representantes da atlética, do centro acadêmico e dos coletivos em defesa dos direitos humanos da universidade. Ao todo, cerca de 120 pessoas participaram.
DESENCONTROS
O diretor da FMUSP disse à jornalistas que Felipe Scalisa “voltou atrás” e teria dito na congregação que, ao contrário do que disse na imprensa, os casos não foram levados à diretoria.
Ao ser perguntado sobre a declaração, Scalisa diz que “alguns eram conhecidos da diretoria” e “outros não”, e não confirmou a afirmação do diretor.
Os casos de abuso sexual vieram à tona após um relato de uma aluna à imprensa. Desacordada, ela foi estuprada em uma das festas da universidade por um funcionário. Na época, disse que a faculdade tentou abafar o caso.
O caso está sendo investigado pela 1ª Delegacia da Mulher e o principal suspeito já foi indiciado, mas junto com ele, outros sete vieram à tona após investigação no Ministério Público e as audiência públicas realizadas na Assembleia Legislativa, que planeja abrir uma CPI.
Na USP, o diretor confirmou que quatro sindicâncias estão em curso -sobre casos de abuso e racismo.
Sobre o caso de 2011, o diretor reiterou que o caso não chegou a seu conhecimento na época. “Nunca aconteceu isso, quando chegou aqui eu imediatamente assinei um requerimento.”
ALESP
O diretor da faculdade de medicina comentou ainda as declarações do deputado Adriano Diogo (PT), que disse que o diretor teria pedido para cancelar a audiência na assembleia.
“Ele é inconsequente e faltou com a verdade, quer transformar esse caso num problema político e ideológico”, diz. “Aqui é uma faculdade seria e tradicional que se responsabiliza por esses alunos e essa fala [do deputado] tem certa leviandade.”
José Auler disse também que deve comparecer à próxima audiência na Assembleia Legislativa, agora que medidas já foram definidas pela congregação.