ESTÊVÃO BERTONI SÃO PAULO, SP – Suspeita de assassinar quatro homens com os quais se relacionou nos últimos 14 anos, uma mulher de 46 anos que ficou conhecida na cidade de Caçador (a 350 km de Florianópolis) como Viúva-Negra foi presa preventivamente nesta terça-feira (25). A polícia chegou à mulher após uma denúncia anônima sobre o caso mais recente. A investigação durou quatro meses. No último dia 25 de junho, um homem de 60 anos com o qual ela tivera um filho fora do casamento há 21 anos foi encontrado morto dentro de uma caminhonete branca, às margens da rodovia SC-350. Inicialmente, a polícia tratou o caso como acidente: o homem não tinha lesões, o veículo não apresentava danos e o laudo da perícia apontou infarto como causa da morte. Vinte dias depois, porém, a polícia recebeu uma denúncia anônima de que o homem contratara pouco antes da morte dois seguros de vida no valor de R$ 1,26 milhão. O único beneficiário era o filho que tivera com a mulher. O homem era dono de restaurante e tem mais três filhos. O rapaz de 21 anos que nasceu do relacionamento extraconjugal só teve a paternidade reconhecida após entrar com uma ação na Justiça. Ele não tinha vínculos com o pai e só começou a se aproximar dele no começo deste ano. Segundo o delegado Fabiano Locatelli, responsável pelo caso, um novo exame constatou que havia no sangue do homem de 60 anos substâncias químicas que poderiam causar um infarto. No dia 24 de junho, um dia antes de aparecer morto, o homem foi convidado para fazer uma visita à casa da mulher. Morreu, segundo a polícia, na cama da Viúva-Negra. Depois, foi colocado no banco do passageiro de um carro emprestado e levado até a rodovia. Quem dirigiu o veículo foi o adolescente de 16 anos, filho do primeiro casamento da mulher. Ela sentou-se no banco de trás. A caminhonete branca foi levada pelo filho de 21 anos ao local em que o crime foi forjado, de acordo com a polícia. Nem a mulher nem o filho mais velho confessaram o crime, segundo o delegado. Os detalhes foram revelados à polícia pelo adolescente. OUTROS CRIMES Durante as investigações, a polícia descobriu que outros três homens que se relacionaram com a Viúva-Negra tiveram mortes suspeitas. O apelido que ela ganhou faz alusão à espécie de aranha que mata o macho após a cópula. Em 2000, ela herdou a herança do primeiro marido, um PM com quem teve o filho de 16 anos. Laudo apontou que ele morreu em decorrência de epilepsia, mesma causa da morte, em 2011, de um segundo companheiro, um operário de madeireira. Em 2012, um agricultor de 32 anos com quem ela namorava havia cinco meses morreu – a causa apontada na época foi infarto. A polícia descobriu que a viúva foi beneficiada pelo seguro de vida dele, de R$ 195 mil. O delegado disse ainda que um ex-namorado dela afirmou à polícia ter rompido o relacionamento de cinco meses após ela insistir para que ele assinasse um seguro de vida. “Ele acabou suspeitando da atitude dela”, afirma. Devido ao tempo decorrido, não é possível refazer os exames para confirmar a causa da morte dos três. Tanto a mulher quanto o filho de 21 anos estão no presídio regional de Caçador. A polícia está analisando com o Ministério Público o que será feito com o jovem. Os presos serão indiciados, segundo o delegado, sob suspeita de homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e insidioso ou cruel), corrupção de menores, fraude processual (por montarem a cena de acidente) e tentativa de estelionato contra o sistema financeiro – por causa do seguro de vida. O advogado da mulher, Carlos Henrique Koehler, disse que ainda não teve acesso aos autos do processo e que não poderia se pronunciar. A reportagem não divulga o nome dos envolvidos para preservar o adolescente de 16 anos. Por ser menor de idade, ele não pode ser identificado, de acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).