SÃO PAULO, SP – O governo da Venezuela confirmou nesta quarta-feira (26) a morte de 13 presos por consumo indevido de remédios e que outros 145 estão sendo atendidos por intoxicação na prisão de Uribana, no oeste do país, enquanto a ONG Observatório Venezuelano de Prisões (OVP) garante que o número de mortos até agora é de 21. “Informamos sobre a lamentável morte de 13 internos”, afirma um comunicado do ministério de Serviços Penitenciários, que atribuiu as mortes à “ingestão descontrolada de fármacos como antibióticos, antiepilépticos, anti-hipertensivos e álcool puro”.

A Justiça venezuelana designou uma equipe de promotores e analistas para investigar as mortes.

A intoxicação aconteceu durante uma greve de fome e um protesto dos detentos do Centro de Reclusão David Viloria (conhecido como penitenciária de Uribana) contra o que consideram tratamento desumano e violações aos direitos humanos por parte das autoridades penitenciárias.

Segundo o comunicado oficial, “um grupo de internos se declarou em greve de fome na segunda-feira (24) para exigir a destituição de um funcionário ministerial que acreditavam ter sido nomeado diretor do centro”. “Às 8h30 (11h00 de Brasília) se tornaram violentos e começaram a quebrar as paredes e as portas das áreas de reclusão.

O apoio da Guarda Nacional foi solicitado de maneira imediata”, completa o ministério. Segundo o governo, os detentos atacaram o posto de saúde e entraram de maneira violenta na enfermaria, assaltaram a farmácia e ingeriram os medicamentos.

CRISE

A ONG Observatório Venezuelano de Prisões (OVP) anunciou um balanço de 17 detentos mortos em hospitais de Lara e outros quatro em Maracay, no estado de Aragua, que haviam sido transferidos do presídio David Viloria.

“Há 15 mortos no Hospital Central de Barquisimeto e outros dois no hospital do Seguro Social. Em outro grupo de detentos, transferido para o (presídio) Tocorón, há 16 intoxicados no Hospital Central de Maracay, incluindo 4 que faleceram e 12 que se encontram mal”, disse à AFP Humberto Prado, diretor da OVP. Prado advertiu que se desconhece a situação de vários presos transferidos do David Viloria para penitenciárias dos estados de Portuguesa e Guárico, no sudoeste do país.

O boletim mais recente da ONG destaca a crise carcerária no país. Em 2012, o governo da Venezuela decretou emergência “em matéria de infraestrutura carcerária” para a recuperação e construção de novas prisões, depois que 304 presos morreram e 527 ficaram feridos nas carceragens no primeiro trimestre daquele ano. No primeiro semestre de 2014, morreram 150 detentos em vários atos de violência. Em 2013, foram 506 mortos, segundo a ONG. De acordo com a OVP, as penitenciárias da Venezuela são afetadas pela superlotação e pelas condições insalubres e de desnutrição dos presos.

Desde 2011, o governo do então presidente Hugo Chávez (morto em 2013) implementou um plano para melhorar as condições de vida nas prisões, obter o desarmamento dos detentos e agilizar os processos judiciais –políticas que o sucessor Nicolás Maduro tenta seguir.

Mas as prisões venezuelanas permanecem como locais de muita violência. Na madrugada de quarta-feira, 41 detentos, condenados por crimes como homicídio e sequestro, fugiram de uma prisão provisória na região de Caracas.