MÁRCIO FALCÃO E RANIER BRAGON BRASÍLIA, DF – O anúncio da equipe econômica para o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff provocou reações diferentes nesta quinta-feira (27) entre governistas e oposicionistas no Congresso. Enquanto a base aliada se esforçou para negar que o ministro da Fazenda indicado Joaquim Levy não representa uma ruptura na política econômica nem é um estranho entre petistas, a oposição acusou a petista de confirmar que praticou estelionato eleitoral ao propagar outro projeto econômico na campanha. Na tribuna do Senado, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) fez a maior defesa. “É um verdadeiro absurdo [esse estelionato eleitoral]. Conheço Levy, e não é de visitar e encontrar em evento. Conheço porque ele trabalhou com o presidente Lula. Esteve comigo na transição do presidente Lula. Não é estelionato eleitoral. Não estamos trazendo uma pessoa que não participou do processo de conquista. É uma pessoa séria, capacitada e rigorosa com as contas públicas. Foram nos primeiros anos de governo que surgiram o Bolsa família e as políticas sociais”, disse. Segundo ela, o futuro ministro “ajudou a construir as bases doesse governo de sucesso”. Ela ainda elogiou a escolha de Nelson Barbosa para o Planejamento e a manutenção de Alexandre Tombini no Banco Central. “Eles vão dar à presidente Dilma grande estabilidade. Eu diria que são os três mosqueteiros que vão dar condições de desenvolvimento e vão dar sobretudo condições de continuidade dos programas sociais. Portanto, não tem nenhuma contradição em relação ao discurso da campanha porque ela vai continuar com os programas que estão dando esse índice e esses resultados”, completou a petista. FOGO AMIGO Desde que vazou a escolha de Dilma por Levy, ele começou a ser alvo de fogo amigo no PT, principalmente por ter um perfil considerado liberal, sendo acusado de gerar uma expectativa de implementar o arrocho condenado pela petista. Outro ataque foi pela ligação com o amigo de Armínio Fraga, conselheiro do senador Aécio Neves (PSDB), rival da petista na eleição. O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), disse que o cenário econômico de 2015 traz preocupações e a nova equipe confere credibilidade ao governo. “É uma expectativa positiva”, afirmou. Relator da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2015 o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) deve se reunir na próxima semana com a nova equipe econômica para discutir ajustes na matéria. Ele tem defendido adoção de parâmetros macroeconômicos mais realistas. OPOSIÇÃO Os oposicionistas também lançaram elogios a Levy, mas centraram fogo na presidente Dilma. “Eles terão uma tarefa gigantesca, que é reorganizar os rumos da economia, que foram destroçados pelo governo Dilma. Ela permitiu a volta da inflação mesmo com o crescimento próximo a zero. Espera-se que ela dê autonomia para essa equipe econômica.” Para o líder da oposição no Congresso, Ronaldo Caiado (DEM-GO), as indicações mostram que a presidente propagou uma política fiscal de fantasia durante as eleições. “Sua nomeação é o atestado de que Dilma não foi honesta. Falou na campanha que os banqueiros iriam tirar o alimento da mesa do trabalhador e, menos de um mês após eleita, nomeia um banqueiro”, afirmou o deputado. Para o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), Dilma cometeu estelionato eleitoral com o anúncio de sua nova equipe econômica. “A presidente Dilma contraria todo seu discurso de campanha. Dizia que não aumentaria as tarifas de energia e combustíveis e logo após o resultado das urnas, anunciou os reajustes. Também condenou seu adversário Aécio Neves que anunciou um banqueiro e traz um Executivo do banco Bradesco para assumir a pasta. Levy será um ministro claramente ortodoxo deixando os petistas arrepiados”, disse.