GUSTAVO FIORATTI
SÃO PAULO, SP – O grupo Núcleo Bartolomeu de Depoimentos sofreu nesta quinta (27) uma ação de despejo coercitivo (forçada), após quase um ano de diálogo com a incorporadora Ink, dona do imóvel na Pompeia (zona oeste de SP) onde eles mantêm sua sede há oito anos.
Por volta das 7h30, um oficial de Justiça chegou ao imóvel com um caminhão de mudanças e um mandado para que o grupo esvaziasse o interior do pequeno galpão. No último dia 11, o grupo já havia recebido uma notificação judicial que dava prazo de 15 dias para a desocupação.
A companhia resistia ao despejo desde o primeiro semestre deste ano, prazo que a incorporadora havia dado para ter o imóvel entregue.
A Ink quer erguer um condomínio residencial no local e diz que o início da obra está programado para janeiro.
O imóvel foi comprado no fim de 2013, quando o grupo já estava lá. Seus integrantes reclamaram que deveriam ter tido preferência na compra do imóvel, mas a aquisição foi feita por permuta.
O antigo proprietário passa a ter direitos sobre unidades do novo empreendimento, conforme explicou Luiz Piccini, diretor da Ink, à Folha de S.Paulo, em outubro. Neste caso, a preferência legal de venda ao inquilino cai. A reportagem procurou Piccini na quinta, mas ele não foi localizado.
Durante o despejo houve atritos entre o oficial de Justiça e integrantes do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, principalmente porque um grupo de funcionários da obra que será erguida entrou no imóvel para analisar as condições para a demolição.
“Ainda nem saímos daqui e eles já estão entrando. A Justiça não poderia permitir isso”, afirmou Eugênio Lima, um dos integrantes do grupo.
O oficial de Justiça disse a ele que, vencido o prazo estipulado pela notificação judicial, o grupo não tinha mais direito de decidir quem poderia ou não circular pelo imóvel.
Segundo Roberta Estrela D’Alva, outra integrante do grupo teatral, a resistência ao despejo foi uma ação política contra a expansão do mercado imobiliário.
Ela se refere a outros equipamentos culturais em situação similar, como o antigo teatro CIT-Ecum, que sofreu despejo há quatro meses, na rua da Consolação.
Em uma tentativa de proteger o cenário teatral, o Conpresp (conselho de preservação do patrimônio de São Paulo) registrou 22 grupos da cidade como bens imateriais da cidade.
Entre esses grupos estava o próprio Núcleo Bartolomeu de Depoimentos. O registro não garante, no entanto, a preservação das sedes e imóveis ocupados pelas companhias.
O Núcleo Bartolomeu tenta reverter a ação de despejo na Justiça.