Estimativas preliminares do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) indicam expansão de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado entre janeiro e setembro de 2014, em relação ao mesmo período do ano anterior. No Brasil a variação é de 0,2% no período, segundo cálculo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados evidenciam a reprodução no Paraná da crise vivida pelo País desde 2013.

Percebe-se que depois de três anos ininterruptos de crescimento, os vetores de dinamismo da base produtiva local foram atingidos pelos elementos de perturbação que acompanham a economia brasileira desde 2011, acrescidos da forte estiagem que prejudicou a produção e produtividade da agricultura, afirma o economista Francisco José Gouveia de Castro, do Ipardes. 

FATORES – Dentre os fatores de perturbação do ambiente nacional destacam-se as barreiras externas, mais precisamente a drástica redução do ritmo de evolução economia mundial, e subsequente diminuição dos preços internacionais das commodities; e a intensificação da adoção de uma política macroeconômica baseada em forte entrada de poupança externa, para financiar o consumo interno público e privado, em detrimento do investimento.

Conforme o economista, os amortecedores parciais do panorama adverso para os negócios regionais são o bom desempenho da safra de inverso, puxada pelas lavouras de trigo; a impulsão da avicultura, a elevação do crédito, a maturação dos projetos de mais de R$ 35 bilhões atraídos, em quase quatro anos, pelo Programa Paraná Competitivo, e o aquecimento do mercado de trabalho.

SETORES – Mas, rigorosamente, o setor de serviços garantiu o comportamento positivo do PIB estadual, ao subir 1,6%. A agricultura cresceu 0,6% e a indústria recuou -3,2% no Paraná. 

Já no Brasil, o quadro de estagnação foi determinado pelos acréscimos de 0,9% da agricultura e serviços, sendo que o segmento industrial recuou – 1,4%. 

As atividades que comandaram o acréscimo no setor de serviços foram serviços profissionais, administrativos e complementares, serviços prestados às famílias, serviços de informação e comunicação e transporte e correio, bastante subordinados ao fluxo de renda proveniente do dinamismo do mercado de trabalho.

Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Paraná foi o terceiro maior gerador líquido de empregos com carteira assinada entre os estados brasileiros, entre janeiro e setembro de 2014, ficando atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais.

O Estado respondeu por 9,3% das contratações líquidas ocorridas no País naquele intervalo, sendo que 76,6% das vagas foram produzidas no interior do Estado, o que confirma os resultados dos esforços conjuntos realizados pelo governo e iniciativa privada para uma maior dispersão geográfica do crescimento econômico.

O Ipardes ressalta que também são importantes as contribuições dos ramos de intermediação financeira para o incremento da renda agregada no Paraná. Segundo dados do Banco Central do Brasil, o crescimento real do ramo foi de 8,7% no acumulado do ano terminado em setembro de 2014, em relação ao mesmo período de 2013, contra incremento pouco superior a 5% para o País.

COMÉRCIO – No subsetor do comércio, a variação de 2,5% das vendas reais no Paraná, versus 2,6% para o Brasil, traduz a combinação entre elevação dos juros e a interferência da aceleração da inflação no poder aquisitivo dos consumidores. Isso diminuiu a demanda e elevou o endividamento das famílias. Os ramos que mais cresceram no Estado foram artigos farmacêuticos, médicos de perfumaria e cosméticos (5,8%), combustíveis e lubrificantes (5,2%) e hipermercado e supermercados (3,4%).

AGRICULTURA – No caso do setor primário, o avanço nas principais culturas agrícolas de inverno, puxadas pelo trigo (incremento de 100%) e da avicultura, não conseguiu devolver o dinamismo da cadeia do agronegócio, retirado pela quebra da safra de grãos de verão, associada à estiagem e o encolhimento das cotações internacionais dos produtos alimentares.

INDÚSTRIA – O setor manufatureiro do Paraná é o que sofreu maior impacto da regressão da economia brasileira. No Estado houve uma retração de 5,8%, frente a redução de 2,9% para o País, no acumulado de janeiro a setembro de 2014. 

Segundo a Pesquisa Mensal do IBGE, o desempenho derivou da contração na fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (-19,5%), pressionado, especialmente, pela menor produção de automóveis, caminhão-trator para reboques e semirreboques, caminhões, veículos para transporte de mercadorias e motores de explosão e combustão interna para veículos automotores; móveis (-9,6%); máquinas e equipamentos (-9,5%) explicados pela redução na fabricação de produtos voltados para a produção agropecuária; e produtos alimentícios (-6,7%). 

Em sentido oposto, o ramo de bebidas (5,4%) e produtos de minerais não-metálicos (4,4%) exerceu a contribuição positiva mais importante sobre o total da indústria paranaense, impulsionado, principalmente, pela maior produção de blocos e tijolos para a construção de cimento ou concreto; e madeira (5%), o que pode ser imputado às obras de infraestrutura realizadas pelo Governo do Estado no interior.

CONFIANÇA – A retração da produção de veículos resulta da queda da confiança do consumidor quanto ao futuro da economia, da restrição de crédito e da crise argentina (país de destino de 75% das exportações brasileiras de veículos). Os dados da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário, também elaborada pelo IBGE, corroboram as condições do setor fabril estadual e nacional, registrando contração de 4,2% e 2,8%, respectivamente, no contingente de trabalhadores ocupados no acumulado de janeiro a setembro de 2014 em relação ao mesmo período de 2013.

DOZE MESES – No indicador anual, acumulado em doze meses encerrados em setembro de 2014, o incremento do PIB do Paraná foi de 1%. No Brasil foi de 0,7%, representando o pior resultado desde 2009, quando a economia do Estado acusou retração de -1,3%, contra decréscimo de -0,3% para a média brasileira, em face do contágio da instabilidade internacional brotada da economia americana. 

No âmbito regional, no acumulado de 12 meses o setor rural caiu 1%. A indústria recuou 1,8% e os serviços avançaram 2,3%. No País, as performances foram de 1,1% para a agropecuária; menos 0,5% para a indústria e aumento de 1,2% para os serviços.

TERCEIRO TRIMESTRE – No terceiro trimestre de 2014, no confronto com igual período de 2013, o PIB paranaense apontou queda de 0,6%, frente retração de 0,2% para o Brasil. Houve declínio da indústria (-4,9%), recuperação da agropecuária (2,4%) e ascensão do setor de serviços (0,6%).