SYLVIA COLOMBO, ENVIADA ESPECIAL FLORIDA, URUGUAI – A coalizão de esquerda Frente Ampla obteve maioria no Congresso uruguaio e é favorita para ocupar pela terceira vez consecutiva a Presidência, se confirmado o favoritismo de Tabaré Vázquez no segundo turno das eleições, neste domingo (30). Na chamada “diagonal blanca”, porém, a Frente Ampla continua sendo o pequeno partido surgido entre trabalhadores urbanos nos anos 70. “Não caímos no conto de Mujica aqui. Acreditamos sim em bons prefeitos, bons administradores, discretos, conservadores, como é o Uruguai”, diz Juan Morés, 62, agricultor em Florida (a 100 km de Montevidéu). Nos departamentos de Florida, Flores, Durazno, Tacuarembó, Lavalleja e Treinta y Tres, a Frente Ampla não conseguiu se impor, e o partido mais bem representado no Congresso continua sendo o direitista Nacional (blanco). “Nós aumentamos nossa votação em relação a 2009, em mais de 2.000 votos, e sou favorito para voltar à prefeitura”, disse Carmelo “Cacho” Vidalín, representante do partido que já foi duas vezes prefeito e três vezes deputado. Já Durazno é um dos departamentos em que as leis liberais do atual presidente José “Pepe” Mujica não são populares. Cerca de 90% dos médicos ginecologistas não aceitam realizar abortos, alegando “objeção de consciência”, o que é permitido por lei. “Estamos trabalhando com calma com essas localidades, enviando médicos e gente para aconselhar. Em último caso, transportamos as mulheres que necessitam o serviço para Montevidéu”, diz o subsecretário de Saúde Pública, Leonel Briozzo, responsável pela execução da legislação. A reportagem visitou Florida na manhã desta sexta-feira. Bandeiras da Frente Ampla eram raras, em meio às faixas brancas e azuis da campanha de Lacalle Pou. “Aqui atrás tem um clube de cultivo de maconha. Não sou contra a lei, mas não acho que vai ajudar. Os meninos ficam curiosos, querem ver as plantas, provar a droga. Quem disse que não estamos estimulando o vício?”, diz José Gorostiaga, vendedor de frutas de Florida.