Em um período recheado de realistas e justificadas apreensões quanto à sustentabilidade do crescimento econômico e social brasileiro, boas notícias são especialmente bem-vindas. Mais ainda quando elas se referem a uma das mais competitivas áreas do mundo contemporâneo, ou seja, a produção de conhecimento científico. Estudo recente da respeitável consultoria internacional Thomson Reuters mostra que o Brasil avançou de forma significativa nas duas últimas décadas, saindo da 23a posição e atingindo a 13a no ranking de publicações científicas.
Ainda que seja correto observar que essa qualidade na ciência brasileira, infelizmente, não tem sido acompanhada pelo aumento em patentes, os estudiosos da Thomson Reuters, mesmo assim, são otimistas quanto ao futuro da inovação no Brasil. O motivo é simples: se é verdade que ciência em si não é garantia imediata de inovação, há mais certeza ainda que, sem produção de conhecimento, não há nenhuma chance de inovação competitiva florescer.
Dois fatores peculiares foram destacados por ocasião da recente 1ª Cúpula Thomson de Experiência em Inovação que reforçam a positiva apreciação do panorama brasileiro: 1. as universidades brasileiras dão evidentes sinais de estarem internalizando rápida e progressivamente a importância da inovação em sua cultura acadêmica, fato este confirmado pelo crescimento acentuado de startups em seus espaços, a integração crescente com parques tecnológicos e a estratégica procura em adotar metodologias educacionais que estimulam inovação; 2. a tendência mundial por parte das empresas mais competitivas de fortalecimento da modalidade de inovação aberta, onde, ao invés das empresas manterem suas equipes próprias de pesquisa, elas contratam projetos em instituições de pesquisa, o que indica que, dada a maturidade de nossa pós-graduação, há um enorme potencial ainda a ser explorado no cenário nacional.
É consenso que a área em que o Brasil tem mostrado grande competência em transferir ao setor produtivo seus avanços científicos e tecnológicos, e assim promovido inovação, é o agronegócio. Tal experiência deve servir de modelo para que façamos o mesmo nos demais setores da indústria, tal como é o principal objetivo da recém criada Empresa Brasileira para a Pesquisa e Inovação Industrial, Embrapii. Esta e outras iniciativas mostram que há clareza de propósitos e, sendo os atores dos dois lados da ponte competentes, resta agora que comunidade acadêmica e empresários comecem a usar intensamente essa via de mão dupla.
As áreas científicas brasileiras de maior destaque científico têm sido ciências agrárias, energias alternativas e medicina. No futuro próximo, se algo pode ser desejável como meta, seria ver o Brasil como destaque mundial enquanto nascedouro de empresas de tecnologia de ponta. Pode parecer um sonho, mas não é. Quem acompanha nossos talentosos jovens empreendedores sabe que pode sim virar realidade e breve. Cabe ao governo, de forma complementar,  estimular, desobstruir amarras e permitir uma atmosfera compatível com tal objetivo. Por sinal, é a nossa única chance de efetivamente termos um desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável.

Ronaldo Mota é reitor da Universidade Estácio de Sá e professor titular aposentado da Universidade Federal de Santa Maria