O Natal de 2014 será diferente para Anísio Bueno, de 68 anos, e dona Orlanda Gonçalves Sapanhos, de 70 anos. Até o ano passado os dois não conseguiam escrever o próprio nome e nem decifrar as letras dos ônibus que passavam nas ruas. Após concluírem as aulas no Programa Paraná Alfabetizado, os dois vão poder assinar, pela primeira vez, os cartões de Natal que mandarão para os filhos e parentes neste fim de ano. Em uma década, o programa já atendeu mais de 500 mil pessoas no Paraná.

Anísio Bueno e Orlanda Gonçalves se reuniram com mais oito alunos na sala de aula da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba, para uma confraternização que marcou a conclusão do curso. Durante oito meses o grupo se reuniu, três vezes por semana, para aprender a ler e escrever.

Nunca estudei. Comecei agora porque lá na roça não me fazia falta, mas aqui na cidade faz muita falta. Até para pegar um ônibus é difícil, disse Anísio Bueno, que nasceu em Ivaiporã (Vale do Ivaí) e se mudou para Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba, para ficar perto dos filhos.

O Programa Paraná Alfabetizado é vinculado ao Brasil Alfabetizado, uma parceria da Secretaria de Estado da Educação com o Ministério da Educação. Em 10 anos de programa já foram atendidas 500 mil pessoas no Paraná, com 15 anos ou mais que não eram alfabetizadas. Todo o material de apoio aos alunos é fornecido pelo Ministério.

Durante o ano, a secretaria estadual da Educação oferta oito etapas do Paraná Alfabetizado. No final de novembro de 2014 o programa atendia 23.863 pessoas. A chefe do Departamento de Educação de Jovens e Adultos, Marcia Dudeque, explica que o objetivo pedagógico do programa é iniciar a alfabetização.

Os alfabetizadores trabalham língua portuguesa, matemática e história com os alunos. Depois dos oito meses do Paraná Alfabetizado, a sequência dos estudos vai acontecer quando o aluno ingressar para a escolarização, ou seja, os anos iniciais da fase I da Educação para Jovens e Adultos, da fase fundamental, afirmou Marcia Dudeque.

INCENTIVO – A maioria dos alunos que frequenta as aulas do Programa Paraná Alfabetizado não teve como estudar quando era criança. Para Orlanda Gonçalves, somente agora, aos 70 anos, surgiu tempo e a oportunidade para entender as letras e os números.

Trabalhei a vida inteira na roça, em Ivaiporã. Depois casei e cada ano era um filho, não tive chance de estudar. Agora, depois de idade estou estudando, contou dona Orlanda.

No supermercado, Orlanda sentia falta de saber ler na hora de escolher os produtos para a compra. Procurar endereços e ver as informações em placas também era impossível. Gostei muito do curso, valeu à pena, aqui formamos uma família. Eu pretendo continuar estudando porque o estudo aqui incentiva a gente, definiu.

Anísio Bueno pegava dois ônibus para chegar até o local das aulas. O esforço valeu à pena. A professora era bastante atenciosa e tinha paciência com a gente. Incentivo quem não tiver terminado o ensino que volte a estudar. Uma das melhores coisas da vida é o estudo, tirando o estudo uma das melhores coisas que eu faço é ir aos bailes da terceira idade, um divertimento. Bem melhor do que ficar em casa, disse animado.

A professora Elisete Lopes dos Santos explicou que é gratificante trabalhar com a alfabetização. Tive uma aluna que falava que não aprendia nada. Então, pedi para ela ler as vogais e ela conseguiu, mostrei que ela conseguia e ela chorou, eu chorei, os outros alunos choraram. Ela viu que conseguia, ficou muito feliz, contou a professora.

PARCERIAS – Para a chefe do Departamento de Educação de Jovens e Adultos da secretaria estadual, Marcia Dudeque, o analfabetismo é uma condição, mas que precisa ser considerada e reparada por todos os segmentos da sociedade. O direito da pessoa é ter acesso ao conhecimento e essa responsabilidade é do governo e de toda a sociedade. A ajuda da iniciativa privada é bem-vinda para tentar superar essa questão, disse.

Muitas empresas oferecem cursos de alfabetização para capacitar os funcionários. O programa Escola Nota da 10, da MRV Engenharia é um desses exemplos. Uma sala de aula é montada no canteiro de obras de construções para os operários estudarem pela manhã, no horário do expediente.

Estudar e trabalhar num mesmo local é muito gratificante, facilita muito. Se fosse para eu estudar à noite não teria condições, já ia chegar em casa cansado e não ia conseguir ir para aula. Esso é uma oportunidade e tanto, afirmou o operário Siderei Carlos Batista dos Santos, de 42 anos.

A companhia sentiu a necessidade de adotar uma iniciativa para reduzirmos o analfabetismo nas obras, uma característica ainda presente no setor da construção civil, dando aos trabalhadores mais dignidade e resgatando sua cidadania, explica o gestor executivo de Segurança, Saúde e Meio Ambiente da MRV, José Luiz Esteves de Fonseca. O projeto já atendeu a mais de 1500 trabalhadores em todo país.