Rodolo Kowalski

Utilizado em três partidas na Copa do Mundo de 2014 (todas pela primeira fase da competição), a Arena da Baixada foi o estádio que menos necessitou de verbas públicas para ser reformado/construído, segundo apontam números oficiais do governo federal. Enquanto a iniciativa privada arcou apenas com 7,2% do custo dos estádios para o Mundial da Fifa, no caso da Arena da Baixada o percentual chega a 66,48% (R$ 260,3 milhões). Entretanto, a realidade é bem diferente do que mostra a Matriz de Responsabilidades.
Segundo o governo federal, a Arena da Baixada foi o estádio que mais usou recursos da iniciativa privada e o que menos necessitou do dinheiro público. Segundo a Matriz de Responsabilidades, o Atlético-PR utilizou apenas R$ 131,2 milhões do dinheiro público, montante conseguido com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O segundo estádio que menos utilizou dinheiro público foi o Beira-Rio, que conseguiu R$ 275,1 milhões por meio de financiamento federal, mas apenas R$ 91,2 milhões em investimentos da iniciativa privada. O outro estádio privado utilizado no Mundial, a Arena do Corinthians, custou R$ 1,08 bilhões, sendo que R$ 400 milhões vieram por meio de financiamento federal e outros R$ 420 milhões foram investimento do governo local.
Os R$ 131,2 milhões conseguidos pelo Furacão com o governo federal vieram por meio do programa BNDES ProCopa Arenas. Para a operação ser viabilizada, porém, o clube rubro-negro precisou da ajuda do governo estadual. É que o banco fez dois contratos de financiamento, um com o Estado do Paraná e outro com a Fomento Paraná. A última assinou contrato com a CAP S/A (sociedade criada pelo clube para gerir as obras do estádio), que recebeu o valor integral disponibilizado pelo banco de fomento.
Já a divisão dos R$ 260,3 milhões restantes, que segundo a Matriz de Responsabilidade teria vindo por meio de investimentos da iniciativa privada, é mais complicada. O fato, porém, é que o clube conseguiu, sim, dinheiro com a Prefeitura de Curitiba e o Governo do Estado, diferentemente do que afirma o Governo Federal.
Em 2011, quando a reforma da Arena da Baixada estava orçada em R$ 184,6 milhões, foi feito um acordo tripartite, que dividia a conta em partes iguais entre Atlético, governo estadual e prefeitura de Curitiba. Após o valor da obra subir, o clube tentou fazer uma nova divisão dos valores, mas os poderes estadual e municipal garantiram que qualquer valor adicional da obra seria bancado pelo clube. Ainda assim, a Fomento Paraná, autarquia estatal que financia diversas obras do estado, foi a principal fiadora das obras na Arena.
Foram, por exemplo, R$ 95 milhões conseguidos com a autarquia por meio de emrpéstimos, com o clube utilizando como garantia os créditos de potencial construtivo, o CT do Caju e os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro. Já a Prefeitura ficou responsável por desapropriar 16 terrenos vizinhos à Arena da Baixada.
Além disso, foram feitos repasses via potencial construtivo, mecanismo existente desde 1982 que permite a comercialização, pelo proprietário de um imóvel, do direito de construção para além da metragem permitida pela legislação municipal de zoneamento e uso do solo urbano. Segundo a reportagem do site Impedimento.org, entitulada Dossiê Curitiba, esses repasses chegaram a R$ 143 milhões.