O VULCÃO DE NIEMEYER
Uns chamavam o prédio de Vulcão. Outros, os habitantes de Havre, de pote de yaourt. Agora, depois de quatro anos de obras de recuperação, reabriu no dia 7 de janeiro a primeira casa da cultura, lançada por André Malraux em 1961, marcada desde a década de 80 por duas crateras de cimento branco, assinadas por Oscar Niemeyer.

Havre e seu Volcan, tem agora uma sala de espetáculos com 800 lugares, novos corredores de circulação e um excelente sistema acústico. O Volcan passa a ser chamado oficialmente de Espace Oscar-Niemeyer, homenagem ao grande arquiteto brasileiro (1907-2012), autor de mais de 600 projetos no mundo, exilado na França na década de 1960.

O destaque é a harmonia com o conjunto arquitetural de Auguste Perret, mestre da obra de reedificação do Havre, depois do bombardeamento dos aliados, que destruiu toda a cidade, em 5 de setembro de 1944.

O teatro é o único da França que não abre para a rua, mas tem entrada no nível inferior. Uma proteção contra o vento, que permite multiplicar os vários pontos de vista. O prédio bateu recordes na época da construção: 115.000 metros cúbicos de aterro, 239 pontos de fundação para assegurar o conjunto, 1.500 toneladas de aço, 10.000 metros cúbicos de madeira, 43.000 metros cúbicos de cimento. A aparente simplicidade da obra resultou dessa fantástica quantidade de materiais diversos.

Com o passar do tempo, o lugar foi sendo degradado e poucos se aventuravam a utilizar o piso inferior. Agora ele abriga dois restaurantes, uma praça coberta, uma mediateca e tem longos corredores envidraçados. A praça se abre para o grande hall. Está dentro do conceito de Niemeyer sobre o Havre: Criar hoje o passado do amanhã.

PHILHARMONIE EM PARIS
Em plena confusão dos ataques terroristas na Cidade Luz, foi inaugurada no dia 14 de janeiro, no parque de La Villette, a dois passos do departamento Seine-Saint-Denis, que abriga uma das populações mais desfavorecidas do país. Atrás de uma imensa fachada de liga de alumínio, a grande sala de concertos da capital francesa, começa com dois desafios: convencer ao público dos bairros mais elegantes, como o da Salle Pleyel e do Théâtre des Champs-Elysées, a se deslocar até o nordeste da cidade para ouvir música de qualidade. E atrair um novo público, vindo dos bairros populares, chamados de difíceis, para ouvir uma música à qual ainda não está acostumado.

Um desafio sonhado por André Malraux, que batalhou pela democratização da cultura e pretendia tornar acessíveis as principais obras da humanidade ao maior número de pessoas. Comparando com outros países da Europa, a França é um modelo em matéria de política cultural. Se esse modelo ainda não é excelente, pelo menos é audacioso, de qualidade e diversificado.

São 1.000 apresentações líricas, 1,4 milhão de espectadores por temporada, nos 5 teatros nacionais, 70 salas de espetáculos, 17 Zénith, 39 centros dramáticos nacionais, mais de uma centena de salas abertas ao público, várias centenas de locais privativos de difusão de espetáculos. E milhares de festivais a cada ano.

Para a Philharmonie há todo um programa a ser seguido. Não será apenas uma sala de concertos, mais um local de apropriação da música pelo público. Com cinco formações residentes, vai abrir os ensaios à plateia, desenvolver concertos para crianças e oferecer espetáculos participativos. Serão realizados finais de semana estilo Berlim, com música clássica, finais de semana Flamengo e espetáculos tendo como tema a Índia, fazendo com que os jovens recuperem a música daquele país nos dias de hoje, com a tradicional raga.

Durante as noites de quartas e quintas feiras, os concertos terão bilheteria de preços normais. Nos finais de semana, os lugares serão vendidos a 20 euros. Também serão organizados roteiros de visitação para escolares, inclusive com aulas em dez apresentações. Seguindo o modelo lançado em 1975 na Venezuela, que chegou a atingir um milhão de crianças. Um resultado que foi reconhecido pela Unesco e adaptado em 25 países no mundo.

O contato da criança em seus primeiros anos de escolaridade com a música e os instrumentos musicais é importante, porque a partir dos 10 ou 11 anos , conforme sua personalidade, a criança já tem suas representações culturais. Fazendo o contato mais cedo, há possibilidade de acabar com a hierarquia, com a mente e os sentidos mais abertos para absorver tanto Beethoven como os Beatles.

UM NOVO ANO DE NOVIDADES
A Escócia realiza o seu Ano da Gastronomia – 2015 Scotland’s Year of Food and Drink – com jantares em restaurantes estrela Michelin ou lagosta e fritas nas mesas rústicas a beira mar. Tudo será bom programa. E haja cullen, haggis e cranachan. Com muito uísque, nas destilarias e bares da moda.

Em Enniskillen, Irlanda do Norte, o primeiro Fim de Semana de Wildeserá em maio de 2015.

Mas surfar no País de Gales já será atividade no novo parque aquático a ser inaugurado na Páscoa de 2015, na região de Connvy Valley, norte do País de Gales. O Surf Snowdown terá ondas com dois metros de altura na lagoa artificial de 300 metros de extensão.

A tirolesa mais longa do hemisfério norte também fica na Snowdonia, assim como o recém inaugurado Bounce Below, primeiro parque de diversões subterrâneo, onde é possível pular em uma cama elástica debaixo de uma mina de ardósia. Há gosto para tudo.

2015 vai marcar os 125 anos de nascimento de Agatha Christie. A escritora de livros de mistério nasceu em Torquay, lugar conhecido como a Riviera Inglesa em Devon, sudoeste da Inglaterra. Agora é possível se hospedar na colônia de férias, em ambientação da década de 1950.

Em Londres continua em cartaz – há 63 anos! – A Ratoeira, peça que está nos palcos há mais tempo em todo o mundo.

2015 também servirá para homenagear os 150 de Alice no País das Maravilhas e Oxford fará a festa, onde Lewis Carroll vivia. Excursões, casas de chá ambientadas, a Casa Antony, do século 18, onde o filme de Tim Burton Alicefoi rodado, no programa turístico.

Já Emma, de Jane Austen, completará 200 anos e vários lugares da Inglaterra terão atrações temáticas. Em especial Wiltshire, Bath e o museu da casa de Jane Austen.

Os 800 anos da Magna Carta, um dos documentos mais importantes da história britânica e mundial, serão lembrados em rotas especiais dedicadas a 6 aspectos da história, incluindo a Biblioteca Britânica, catedrais, pequenas cidades e vilarejos que tiveram papel importante na assinatura da Carta Magna. Um bom exemplo é o castelo Lincoln, que passou por reformas orçadas em 88.8 milhões de reais e ocupou 4 anos de trabalhos.

Winston Churchill será lembrado nos 50 anos de sua morte. Oportunidade para visitar a casa em Chartwell, o Churchill War Rooms em Londres, casamata que abrigou o primeiro ministro inglês e seu governo durante a Segunda Guerra Mundial. Além do Palácio de Blenheim, onde Churchill nasceu e onde pediu sua esposa em casamento.

O Braeman Gathering, um dos eventos mais famosos dos Highland Games, fará 200 anos, sempre prestigiado pela família real britânica. Mostra a cultura escocesa com danças das Terras Altas, jogos de arremesso de vara e Cabo de Guerra. Tudo acompanhado por gaita de fole. E muito uísque.

E quem gosta de porcelanas finas, poderá conhecer a Wedgwood Visitor Experience, que será inaugurada na Páscoa. A nova e elegante casa de chá, fica junto do museu Wedgwood, das famosas porcelanas inglesas. O restaurante também será novo, no centro de visitantes em Stoke-on-Trent, um projeto que custou 137 milhões de reais.


O luxo volta a se instalar em Budapeste na primavera do hemisfério norteNa França os usuários estão trocando o trem por viagens de ônibus, mais baratas

DESTAQUES

O FIM DOS TRENS?
Considerado muito caro, cheio de dívidas, o sistema ferroviário francês está perdendo fôlego. A rentabilidade dos TGVs derrete, os trens intercités não dão lucro. Está sendo ameaçado, a médio prazo, todo o conjunto de rede dos trens de longa distância.

Para alguns percursos, como Bordeaux-Lyon, o ônibus ainda é mais conveniente do que os trens. O automóvel já concentra 83% da preferência dos franceses, deixando para os trens um mercado de 9%. Dos quais 5,5% são de TGVs.

As companhias de ônibus preparam a entrada no mercado de longas distâncias.Coisa que até agora só era permitido para viagens internacionais. Esse tipo de transporte na Francá será liberado pelo governo ainda neste 2015.Bem mais econômico, o ônibus pode abocanhar até 5% do mercado de longos trajetos.E desestabilizar ainda mais algumas linhas ferroviárias.

O sistema ferroviário francês transporta anualmente 1,5 bilhão de passageiros. A grande maioria – 1 bilhão de pessoas – apenas na Ile-de-France. O futuro aponta para os trens de periferia, nas zonas densamente ocupadas, e não mais para os trens de interior.

NA CHINA, A NOVA ERA DE TRANSPORTE
Foi na véspera do Natal 2014, que o governo chinês inaugurou sua imensa rede ferroviária de alta velocidade. Uma nova linha foi aberta no dia 26 de dezembro, percorrendo em menos de doze horas os 1.800 quilômetros separando Lanzhou de Urumqi, capital de Xinjiang.

Um símbolo tecnológico e politique, que atravessa o deserto e resiste aos ventos extremos e ao preço da rentabilidade financeira. No mesmo dia, os trens entraram em serviço em duas outras linhas, ligando a metrópole de Cantão às províncias rurais de Guangxi e Guizhou, adicionando assim 3.200 quilômetros aos já existentes 11.000 quilômetros de trilhos para os trens de alta velocidade.

Tudo dentro do projeto de atingir 16.000 quilômetros de rede de trens rápidos que a China pretende colocar no horizonte, até 2020. Para conseguir financiamento aos gastos faraônicos, a China espera vender seus próprios trens no exterior. Inclusive no Brasil.

A República Popular enxerga mais longe do que apenas os custos. A linha Pequin-Guangzhou, a mais longa de alta velocidade no mundo, com seus 2.300 quilômetros de trilhos, aberta em 2012, faz a travessia do país em menos de oito horas.

Não é a preferida dos executivos, que viajam mais rápido em avião. Mas tirou do esquecimento uma série de cidade como Shijiazhuang, Zhengzhou, Yueyang, Changsha, de potencial econômico inestimável.

BRASIL NÃO É NOTÍCIA
A publicação internacional do New York Times, como faz todos os anos em janeiro, publicou na seção Travel os 52 melhores lugares para visitar em 2015. Não há a menor menção para nenhuma atração do nosso turismo. Milão está em primeiro lugar, principalmente pela 2015 World Expo. Mas tem Cuba, Philadelphia, Elqui Valley (Chile), Bolívia, Zimbabwe, St. Vincent e Grenadines, Tanzania, Costa Norte do Peru, República Democrática da Georgia, Campeche (México), Cleveland, Squamish, British Columbia, Papua (Nova Guiné), Baku (Azerbaijão), Kas (Turquia), Tulsa (Oklahoma).

Alguém já ouviu falar em promoção dos diferentes órgãos de turismo brasileiros, ou dentidade maior – a Embratur -? Este país continente, cheio de belezas, natureza, uma costa sem fim, uma floresta amazônica de dar inveja (que estão sendo eliminada do planeta, mas enfim…) , contrastes culturais, como se o Brasil fosse na verdade muitos países. Seremos assim tão insignificantes – ou está faltando um pouco de vergonha mesmo? Se os organismos são inoperantes, melhor fechar portas. E economizar dinheiro, gasto inutilmente com faraônicos eventos, mas vazios do que pastel na esquina.