LEANDRO COLON, ENVIADO ESPECIAL
ATENAS, GRÉCIA – O líder do partido de esquerda radical Syriza, Alexis Tsipras, foi declarado oficialmente na tarde desta segunda-feira (26) o novo primeiro-ministro da Grécia.
Tsipras reuniu-se com o presidente grego (cargo simbólico), Karolos Papoulias, no palácio presidencial, para cumprir o rito de informá-lo da maioria obtida no Parlamento e fazer o juramento.
Vencedor das eleições legislativas realizada neste domingo (25), o Syriza selou acordo com o partido Gregos Independentes, de direita nacionalista, para formar maioria e governar o país.
Apesar de atuarem em campos opostos da política, ambos compartilham do discurso contra as medidas de austeridade fiscal praticadas pelo governo grego, até então comandado pelo centro-direitista Nova Democracia, de Antonis Samaras.
Ao todo, a legenda de esquerda conquistou nas eleições de domingo (25) 149 das 300 cadeiras do Parlamento, duas a menos da maioria absoluta que lhe permitiria governar sozinho. A aliança com os Gregos Independentes dará mais 13 votos no Parlamento, o necessário para um governo de coalizão.
O acordo foi anunciado pelo líder dos Independentes, Panos Kommenos, após reunião com Tsipras na sede do Syriza, em Atenas. “O que eu posso dizer é que, a partir deste momento, há um governo”, disse Kommenos aos jornalistas presentes.
Ao discursar no domingo após o resultado, Tsipras, um jovem político de 40 anos, mandou um recado para a Europa: a troika, composta por Banco Central Europeu (BCE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Comissão Europeia, responsável pelo programa de recuperação dos países em crise baseado em medidas de austeridade fiscal, ficou no “passado”.
“A população grega fez história e deixou para trás cinco anos de humilhação e sofrimento. Vamos recuperar nossa soberania, com nossas propostas de negociação”, disse o líder de esquerda.
O resultado é um marco na história do país: um partido de esquerda radical assume o poder pela primeira vez em quase 200 anos de existência do Estado moderno grego.
Se a esquerda comemora, por outro lado as principais lideranças europeias assistem com apreensão à vitória de um partido que defende o perdão de 50% da dívida pública, hoje em torno de 320 bilhões de euros (175% do PIB), e uma moratória temporária do restante.
O seu programa promete mais benefícios sociais para os gregos, como energia de graça para 300 mil deles, moradias populares e extinção de impostos.
ROTA DE COLISÃO
“A eleição na Grécia vai aumentar a incerteza econômica em toda a Europa”, declarou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, após a divulgação do resultado.
O Syriza entra em rota de colisão com as potências da União Europeia porque ameaça romper compromissos financeiros firmados pelo país dentro do bloco e impactar as contas públicas da já frágil economia grega.
O discurso de campanha foi em cima das medidas de austeridade fiscal negociadas e compromissadas pela Grécia para receber em troca, desde 2010, um socorro de 245 bilhões de euros do FMI e do BCE.
Para o Syriza, o ajuste fiscal, marcado por aumento de impostos e cortes de gastos em salários e cargos públicos, não melhorou a vida da população e levou a Grécia a uma dívida pública impagável.
O que ocorreu nas urnas da Grécia deve não só representar uma nova era nas suas relações dentro da União Europeia como estimular movimentos parecidos em lugares como a Espanha, onde cresce a atuação do Podemos, partido criado em 2014 sob diretrizes antiausteridade.
O líder da sigla espanhola, Pablo Iglesias, celebrou a vitória do Syriza. “Os gregos não têm mais um delegado de [Angela] Merkel”, disse, referindo-se à chanceler alemã.
A permanência na zona do euro certamente será tema de discussão daqui para frente, embora o partido venha negando a intenção de abandonar a moeda única.
A Grécia, de fato, deu sinais de que saiu da recessão, pela primeira vez em seis anos, no fim de 2014. Mas apresenta, por exemplo, a maior taxa de desemprego da Europa –em torno de 25%, sendo de 60% entre os jovens. Sua economia encolheu 25% desde 2008.