A tradição da venda direta, ou do comércio porta em porta no Brasil, remonta mais de 80 anos de história. Este tipo de venda, muito comum e popular atualmente, começou quando o Brasil dava os primeiros passos para o processo de industrialização, em 1930, e não foi muito diferente do que aconteceu com o início das vendas diretas no mundo.
No século XVIII, em Nova Iorque, as vendas das famosas enciclopédias em domicílio cresceram quando um dos vendedores aceitou a ideia da esposa e começou a oferecer perfumes como brinde. Foi quando ele percebeu que as pessoas compravam mais por causa do perfume do que pela enciclopédia. Este foi o início de uma das maiores empresas de cosméticos do mundo, líder em vendas até hoje.
No governo de Juscelino Kubitscheck, quando a economia nacional apontava um aumento no setor de bens de consumo de 67% e continuava em constante crescimento, algo absolutamente novo para a década de 1950, esta multinacional de cosméticos se instalou no Brasil. Com um mercado em potencial, em pouco tempo a empresa se estabeleceu e o formato de venda direta passou a se mostrar como um modelo de negócio vantajoso e organizado.
Desde então, tornou-se comum a venda por meio de representantes que pouco a pouco se tornavam amigos das famílias e pessoas de confiança. Além das vendas por catálogos e dos encontros para demonstração dos produtos, em que o (a) revendedor (a) reunia um grupo de clientes para mostrar as novidades. Em algumas regiões do país, este momento tornava-se um acontecimento social.
De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta (ABEVD), esse mercado atualmente conta com mais de 4,5 milhões de revendedores no Brasil, gerando cerca de 8 mil empregos diretos e movimentou em 2013 R$39 bilhões em volume de negócios com o comércio de cosméticos, roupas, alimentos, suplementos nutricionais, produtos de utilidades domésticas e até produtos de limpeza.
Até mesmo grandes empresas de varejo passaram a adotar esta modalidade de negócio para incrementar suas vendas, aproveitando que o consumidor brasileiro é favorável à cultura de venda porta a porta, já que ele apresenta um perfil de relacionamento que preza pelo bom atendimento e pela simpatia do vendedor ou representante da marca. Sem contar que este consumidor, cada vez mais exigente, aprecia a facilidade do serviço direto e o atendimento personalizado.
Além destes fatores, outro talvez mais preponderante é com relação ao emprego, uma vez que a venda direta pode ser definida como um complemento de renda para algumas famílias, levando em consideração que é alto o número de mulheres nesta função ou, ainda, para quem quer ter o seu próprio negócio formal e investe na representação de algumas marcas como pessoa jurídica.
Neste segmento de trabalho, os benefícios para o representante são vários. O primeiro deles é a possibilidade de ter seu próprio negócio, ter sua renda baseada exclusivamente na sua dedicação nas vendas, que pode gerar até 30% de lucro, além de trabalhar em horários flexíveis e poder se desenvolver profissionalmente.
O Brasil está hoje em quarto lugar no ranking mundial de empresas de venda direta, segundo a ABEVD, atrás somente dos Estados Unidos, Japão e China. Com um mercado cada vez mais em expansão, é natural essa modalidade de vendas resulte na abertura de tantas outras empresas neste segmento de mercado e que atraia outras empresas mundiais, atuantes deste setor, a investirem em nosso país.
Se esta previsão for certa, será uma boa notícia para o cenário econômico atual, com a geração de empregos e aumento da renda do brasileiro. Desta forma, nossa economia agradece e o consumidor brasileiro também.

 

André de Figueiredo é gerente de marketing da Eismann do Brasil, empresa de origem alemã, referência na Europa em venda direta de alimentos ultracongelados