RENATA AGOSTINI
SÃO PAULO, SP – Um eventual racionamento de energia este ano pode levar à contração de 1,5% na economia do país, estima o banco Credit Suisse.
Segundo a instituição, por conta dos níveis atuais dos reservatórios de água e da falta de chuvas, a chance de um racionamento está agora em 40%. No final do ano passado, o banco estimava que a probabilidade de restrição de acesso à energia estava em menos de 20%.
“Basicamente, se considerarmos o que ocorreu em 2001, calculamos que, para cada 10% de racionamento durante um ano, teríamos um ponto percentual de PIB a menos”, disse Daniel Lavarda, economista do Credit Suisse, durante evento promovido pelo banco nesta terça-feira (27) em São Paulo.
Se não houver racionamento, a economia brasileira deve recuar 0,5% em 2015, calcula o banco.
A instituição acredita que, caso o governo decrete racionamento após o término do período de chuvas, em abril, haverá um forte impacto na atividade no segundo e no terceiro trimestre.
“Em 2001, o impacto foi visto no trimestre do anúncio e, logo em seguida, quando tivemos a maior redução”, afirmou Lavarda.
O crescimento de 2016 também seria afetado. O Credit Suisse estima que, por conta dos ajustes feitos este ano, a economia brasileira voltaria a crescer no próximo ano, registrando expansão de 1,5%. Caso haja racionamento, contudo, o aumento no PIB deve ficar em apenas 1%, projetam os economistas.
“Isso levaria provavelmente ao carregamento estatístico para o ano que vem. Teríamos um ponto de partida em 2016 muito menor do que esperávamos há alguns meses”, disse Lavarda.
INFLAÇÃO
Para o banco, a inflação este ano deve ficar sempre acima de 7%, situação que não se via desde 2003, afirmou o economista-chefe da instituição, Nilson Teixeira.
O eventual racionamento de energia pode pressionar ainda mais os preços, levando a um acréscimo de 0,7 ponto percentual na taxa, de acordo com o banco. A inflação terminaria o ano em 7,8%.
“Ocorreria principalmente por conta de um aumento ainda maior nas tarifas de energia, água e esgoto e por uma maior inflação de alimentos, principalmente a dos alimentos in natura”, afirmou Iana Ferrão, economista do banco.
Para o Credit Suisse, há dúvidas de como o governo reagiria num cenário de inflação ainda mais alta e redução mais brusca da atividade.
“Não está claro se manterá os ajustes ou se voltará à política de alíquotas de impostos e subsídios”, afirmou o economista do Credit Suisse Leonardo Fonseca.
O banco acredita, contudo, que o mais provável é o resgate de políticas de incentivo aos setores produtivos e aumento maior na taxa de juros.