O prefeito Gustavo Fruet (PDT) admitiu ontem que o acordo parcial que prevê o retorno dos motoristas e cobradores ao trabalho, hoje, não resolve a crise no sistema de transporte coletivo de Curitiba. E que a questão está contaminada por conflitos de interesse e tentativas de empresas concessionárias do serviço de garantir aumento de tarifas na negociação da data-base da categoria, no mês que vem. 

Após dois dias de paralisação total, os motoristas e cobradores concordaram em retomar a operação com 80% da frota hoje, e 100% a partir de amanhã, diante da promessa do governo do Estado de pagar R$ 5 milhões dos R$ 16,5 milhões atrasados referente aos últimos três meses do convênio com a Urbs e a prefeitura, para a manutenção da Rede Integrada de Transporte da Capital e região Metropolitana. (veja matéria na página 4). Fruet comemorou o acordo parcial, mas reconheceu que ele não resolve o problema, já que ainda não há acordo entre a Urbs e a Coordenadoria da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) – órgão do governo estadual subordinado à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano (Sedu), comandada pelo deputado Ratinho Júnior (PSC).

Por trás do impasse está justamente o calendário eleitoral, já que Fruet – eleito em 2012 com o apoio do PT – é candidato natural à reeleição. E Ratinho Jr – derrotado pelo pedetista no segundo turno da eleição municipal – é o nome mais forte do grupo do governador Beto Richa (PSDB) para a disputa na Capital no ano que vem.

Com a promessa de que o governo do Estado fará o pagamento, ainda esta semana, de R$ 5 milhões dos R$ 16,5 milhões devidos, Justiça determinou retorno imediato de 80% da frota do transporte coletivo. Sindicatos assumiram compromisso de retomar 100% da operação assim que o recurso for depositado. Solução pontual que não resolve questão do financiamento do sistema, comentou Fruet ontem, pelas redes sociais. Somos reféns de uma integração mal planejada, de uma licitação realizada há apenas 4 anos que não equacionou sistema e da falta de licitação das linhas metropolitanas, alega o prefeito, referindo-se à licitação realizada em 2010, na gestão do ex-prefeito Luciano Ducci (PSB). Há conflito de interesses, tentativas de intrigas, desinformação e busca de aumento muito expressivo nos custos, avalia Fruet.

Segundo o pedetista, o caminho é a repactuação de responsabilidades. Sem ruptura. Esse caminho, porém, parece cada vez mais difícil diante da disposição da Comec e do governo estadual de reduzir de R$ 7,5 milhões para R$ 2,3 milhões o valor do subsídio mensal repassado à prefeitura para a manutenção da integração. A alegação é de que ao contrário do que diz a Urbs, , o número de passageiros oriundos da RMC representa 31,2%, dos usuários do sistema, e não 21,7%, conforme pesquisa origem destino feita Fipe à pedido do governo.

Essa posição foi reafirmada ontem, por Ratinho Jr. A Comec também vinculou o pagamento dos subsídios atrasados à assinatura de novo convênio, já com valores reduzidos. Diante disso, o município já anunciou a disposição de deixar para o governo Richa a tarefa de passar a pagar as empresas que operam na região metropolitana, ficando a prefeitura com a responsabilidade de pagar apenas as empresas que atuam na Capital.

Novo reajuste
A situação deve se agravar ainda mais a partir do mês que vêm, quando os motoristas e cobradores apresentarem proposta de reajuste salarial anual da categoria. Segundo informações da imprensa, o pedido inicial de reajuste dos trabalhadores deve ser de 19% (a correção pelo INPC mais o dobro do índice acumulado no ano). Hoje, o salário dos trabalhadores têm peso de quase 50% da tarifa, comentou o prefeito.

Segundo informações não-oficiais veiculadas pela rádio Banda B, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo de Curitiba e RMC (Setransp), pretendem pedir reajuste de 20% na tarifa técnica – paga pela Urbs às concessionárias de ônibus – que hoje é de R$ 3,18 e seria elevada a R$ 3,75, caso esse porcentual seja aceito. Com isso, e mantidos os atuais patamares de subsídio do governo do Estado, a tarifa social – cobrada do usuário poderia chegar a R$ 3,40.