Cinderela. Rapunzel. Chapeuzinho Vermelho. João e o pé de Feijão. O padeiro. Personagens de contos de fadas “empacotados” em uma única história. Tudo com direito aos clássicos vilões de histórias infantis. Como uma madrasta. E um lobo mau. E príncipes encantados. E uma bruxa. Assim é Caminhos da Floresta, filme que estreia amanhã em Curitiba. 

A história não é nova. Trata-se da adaptação de um musical de Stephen Sondheim, Into the Woods. Desde sua estreia na Broadway, em 1987, tornou-se uma de suas obras mais aclamadas. Doze anos atrás, o diretor Rob Marshall reuniu-se com o músico e expressou o interesse em dirigir uma versão em filme de uma das produções dele. No topo da lista… Into the Woods.

“De muitas maneiras, eu acho que Caminhos da Floresta (Into the Woods) é um conto de fadas para a geração do século 21 pós 11 de setembro”, diz Marshall. “Sondheim e Lapine estavam bem à frente do tempo quando escreveram isso. O entendimento reconfortante de que não estamos sós neste mundo instável nos dá todo esse lampejo de esperança.” Trata-se de uma referência a um discurso de Barack Obama, que disse “Ninguém está só”.

Claro que uma história que mistura tantos personagens infantis assim começa com “Era uma vez, num reino distante”. Isso era quando o Padeiro (James Corden) era só uma criança. Seu pai (Simon Russell Beale) foi pego roubando os feijões mágicos da horta de uma bruxa (Meryl Streep), que era sua vizinha.

Como castigo por perder os feijões, a Bruxa foi amaldiçoada. Mas deu o troco: lançou um terrível feitiço na casa do Padeiro, garantindo que ele e sua mulher não pudessem ter filhos.

Anos depois, quando o Padeiro e sua Mulher (Emily Blunt) ficam sabendo de toda essa história, eles se aventuram pela floresta em busca dos ingredientes que reverterão o feitiço — e, por tabela, também trarão de volta a beleza da Bruxa. Em 3 dias, quando surge a lua azul, algo que só acontece a cada 100 anos, eles devem retornar com quatro itens: uma vaca branca como leite, cabelos amarelos como milho, um capuz vermelho como sangue e um sapatinho puro. Pensou em João (que iria trocar sua vaca por feijões que, veria depois, era mágicos), Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho e Cinderela? Mas esses personagens também têm seus desejos, suas preocupações. Como equalizar tudo? Difícil. Mas é sempre bom lembrar que toda história de fada que se preze termina com um “felizes para sempre”.

Os contos de fadas evoluíram, diz Meryl

Meryl Streep de bruxa? Se dependesse da atriz, isso não seria possível anos atrás. Ela simplesmente recusaria. Mas o tempo passou, e Meryl, que completa 60 anos neste ano, não precisa provar nada para ninguém. Afinal, o que dizer de uma atriz indicada dezoito (isso mesmo, dezoito) vezes para o Oscar?

Meryl Streep já foi Margaret Thatcher (A Dama de Ferro). Já foi uma versão de Anne Wintour, a editora da revista Vogue (O Diabo Veste Prada). Já esteve em um musical (Mamma Mia). Então, por que não uma bruxa no musical Caminhos da Floresta? Nem lhe pareia algo tão novo assim… Mas por trás disso havia uma justificativa: Os contos de fadas evoluíram para contos de alerta. Todos são incentivados a encontrar um príncipe e viverem felizes para sempre e algumas vezes isso não acontece, opinou ela.

Sobre o que dizer a uma atriz indicada dezoito vezes para o Oscar?, há algo a dizer: Caminhos da Floresta rendeu a Meryl Streep a 19ª indicação ao prêmio.

O que a atraiu ao projeto?
Meryl Streep – Quando fiz 40 anos, recebi três propostas para interpretar bruxas em um ano e percebi que era o caminho que minha carreira ia seguir: eles não sabem o que fazer com mulheres que passam de uma certa idade. Então, eu não aceitei e disse não para papéis de bruxas desde então. Mas mudei de ideia quando esse papel apareceu porque essa bruxa é bem diferente. Em primeiro lugar, ela se transforma. Toda sua razão para existir é para reverter um feitiço que foi lançado nela; ela põe em movimento todo tipo de dispositivo e causa uma reviravolta dramática na vida de todos. Eu creio que os contos de fadas evoluíram para contos de alerta. Eles eram contados para afastar as crianças de perigos que encontrariam na vida e para encorajar mulheres jovens a se casar com homens ricos. Todos são incentivados a encontrar um príncipe e viverem felizes para sempre e algumas vezes isso não acontece. É aí que o conto de Caminhos da Floresta se torna real e fica emocionante, randômico, estranho e quase como a vida real. Para um ator é muito divertido.

Você conhecia a peça teatral antes de assinar o contrato para o filme?
Meryl Streep – Eu fui ver o musical quando estava na Broadway como a grande Bernadette Peters interpretando a Bruxa, e achei fantástico. Não há ninguém igual a Stephen Sondheim. Não há ninguém que escreva canções direcionadas a personagens que possam ser cantadas e que contem uma história. A perspicácia, inteligência e ousadia de sua música não têm paralelos, então fiquei muito feliz de ter a chance de trabalhar no filme.

O visual do filme teve algum impacto em você como atriz?
Meryl Streep – Eu realmente dependo do meu cabeleireiro e maquiador, Roy Helland, que precisa criar dois visuais muito diferentes para a Bruxa e para a Bruxa transformada. É empolgante, toda vez que entramos num projeto novo ficamos muito ansiosos imaginando se fomos longe demais, mas é muito divertido trabalhar dessa forma. Por que estar segura? Eu interpreto uma bruxa! E Colleen Atwood, nossa figurinista, é um tornado. Seu trabalho é muito criativo, livre e dramático. Ao mesmo tempo, ela é conhecida pela atenção aos detalhes e alguns dos trabalhos são muito cuidadosos, delicados e lindamente confeccionados – são realmente belos e divertidos de usar. Os cenários também eram extraordinários. Havia uma floresta construída em muitos estúdios, porque em um momento é de uma maneira, e depois fica pós-apocalíptica com outra paisagem completamente diferente. E nós também filmamos algumas cenas em cenários reais. Nós filmamos a sequência da Rapunzel em um mosteiro do século 11 no norte de Londres chamado Waverley Abbey e a cena do “terremoto” no belo Dover Castle, que fica na costa sudeste. Como atriz, quando você está num castelo real e tem cavalos levando pessoas em carruagens com rosas caindo do céu, você se sente num mundo imaginário, então seu trabalho está praticamente feito.

E a exigência de cantar no filme?
Meryl Streep – Eu adoro a música de Caminhos da Floresta. Quando você ouve pela primeira vez a música, é meio apreensivo, mas na segunda ou terceira vez que ouve, ela tem mais e mais para dar a você. E quando se está num musical, eles tocam a música que gravamos em estúdio antes em todo o set. Eu me lembro de sair do teatro na Broadway cantando No One Is Alone para mim mesma — essa canção pega. As outras canções são igualmente maravilhosas.

O que espera que o público leve deste filme?
Meryl Streep – Este é um musical com cérebro. Há uma inteligência por trás graças a Sondheim e Lapine. É visualmente e emocionalmente gratificante, mas também tem outros elementos que nos envolvem como artistas e nos fazem querer fazer o melhor que podemos. Do ponto de vista musical é desafiante e emocionante, então isso é o que eu espero para as pessoas: que se comovam e se sintam desafiadas.