DIOGO BERCITO, ENVIADO ESPECIAL
ANGOULÊME, FRANÇA – Angoulême, capital internacional dos quadrinhos, inaugurou a 42ª edição de seu festival nesta quinta-feira (29) embaixo de uma nuvem cinza, enquanto seus visitantes se abrigavam da chuva, correndo molhados rumo aos pavilhões do evento.
Também acinzentado era o humor durante esse início de festival -realizado, afinal, no mesmo mês em que dois atiradores invadiram a redação da publicação satírica “Charlie Hebdo” em Paris e mataram 12 pessoas. O atentado foi motivado por ilustrações que o jornal fazia de Maomé, o profeta do islã.
Ao contrário de edições anteriores em que a reportagem esteve presente, o evento era nesta quinta-feira mantido sob forte aparato de segurança. Enquanto expositores montavam seus estandes, cachorros farejadores checavam gibis e badulaques.
A operação antiterror, com cartazes espalhados pela cidade e avisos sonoros (“é para a sua segurança”), deve prejudicar o andamento do festival. A entrada nos pavilhões é feita após inspeção de bagagem e detectores de metal, criando filas e atrasos. Saídas laterais foram fechadas, e quem frequenta o evento anualmente teve de reaprender seus caminhos.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Angoulême não respondeu ao pedido de entrevista para comentar a situação. A organização do festival afirma que a segurança não é sua responsabilidade, e também não comenta as medidas.
CIDADE
Angoulême é considerada a capital internacional dos quadrinhos, razão pela qual suas ruas são marcadas por murais ilustrados. As placas de sinalização são penduradas em formato de balão, como aqueles que marcam os diálogos nos gibis.
O festival de quadrinhos realizado no início de cada ano é o mais importante do gênero, e reúne gigantes para palestras e disputadas filas de autógrafo. O grande prêmio, que será entregue nesta quinta (29), é como o Oscar dos gibis -a expectativa é de que seja dado neste ano ao japonês Katsuhiro Otomo, criador de “Akira”.
Em 2014, o premiado foi Bill Watterson, pai de “Calvin e Haroldo”. Pelas regras do festival, ele é neste ano o curador do evento. Mas, ao contrário de outros curadores em edições anteriores, Watterson não compareceu ao festival.
OPORTUNIDADE
O festival de Angoulême é visitado, durante os dias de semana, principalmente por excursões escolares. No final de semana, o público é maior, e estarão ali grandes autores do gênero.
A cidade recebe também jovens quadrinistas em busca de oportunidades. Os que ainda não publicaram seus trabalhos fazem fila para conversar com editores e receber sugestões. Os mais adiantados levam seus gibis embaixo do braço para mostrar a editoras interessadas em traduzi-los para outros mercados.
Há também um museu dedicado aos quadrinhos e pavilhões de venda de badulaques (como estátuas do personagem Tintim, o jovem repórter desenhado por Hergé).