SILAS MARTÍ
SÃO PAULO, SP – Uma instalação com 28 tapetes usados em mesquitas foi removida de uma exposição num centro cultural nos arredores de Paris depois que a prefeitura local recebeu uma ameaça de uma entidade muçulmana. A obra da franco-argelina Zoulikha Bouabdellah mostrava os tapetes usados para a reza com um buraco no meio emoldurando sapatos de salto alto.
Segundo o centro cultural, a ameaça recebida dizia que “incidentes irresponsáveis” poderiam ocorrer caso a peça fosse mostrada e que, portanto, a obra foi removida horas antes da abertura da mostra no Pavillon Vendôme, em Clichy.
Bouabdellah, que é de origem muçulmana, disse que sua obra é uma reflexão sobre a condição da mulher no islã e que “a modernidade da mulher” é “conciliável com a fé muçulmana”. A instalação chamada “Silence” já havia sido mostrada em Paris, Berlim e Nova York.
Numa carta, a artista afirmou que o “desentendimento da obra pode ser atribuído à atmosfera carregada depois dos eventos recentes em Paris”, em alusão ao ataque terrorista na sede do “Charlie Hebdo”, mas disse que não gostaria que o episódio “gerasse mais confusão e distúrbios”.
Na exposição, “Silence” foi substituída por um vídeo da mesma artista em que ela aparece dançando a dança do ventre ao som do hino nacional francês. Orlan, outra das 20 artistas mulheres presentes na exposição, retirou sua obra da mostra em protesto pela remoção do trabalho de Bouabdellah.
Charlotte Boudon e Christine Ollier, diretoras da Galerie Les Filles du Calvaire e curadoras da mostra, pediram ao prefeito de Clichy, Gilles Catoire, que apoiasse a exibição de “Silence” ou interditasse toda a mostra.