O empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, preso desde 14 de novembro na sede da Polícia Federal, em Curitiba, base da Operação Lava Jato, pediu à Justiça a inclusão do ex-ministro da Comunicações, Paulo Bernardo, entre as testemunhas de sua defesa. Em resposta à acusação feita pela Procuradoria, juntado aos autos da Lava Jato hoje, executivo arrolou também o ex-ministro das Defesa, Jaques Wagner, o candidato à presidência da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT), e os deputados Paulinho da Força (SD), Jutahy Júnior (PSDB), Arnaldo Jardim (PPS) e Jorge Tadeu Mudalen (DEM).

Foi chamado ainda o secretário municipal de saúde de São Paulo, José de Filippi Júnior, ex-tesoureiro da campanha de reeleição do ex-presidente Lula (PT), em 2006, e da primeira campanha da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2010, e ex-prefeito de Diadema, cidade da região metropolitana da capital paulista. No documento, a defesa não explica o porquê de ter arrolado estas testemunhas. O executivo é o primeiro empreiteiro, réu da Lava Jato, a arrolar para sua defesa políticos e autoridades muito próximas de Dilma e Lula.
O ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef disseram à Justiça, em depoimento dentro do processo de delação premiada, terem repassado R$ 1 milhão à campanha da esposa de Paulo Bernardo, senadora Gleisi Hoffmann, em 2010, quando ela concorreu e foi eleita para o Senado. Youssef disse que o dinheiro teria sido pedido por Paulo Bernardo. Na época, ele era ministro do Planejamento do governo Lula.
Segundo o doleiro, o dinheiro teria sido entregue em quatro parcelas, em espécie, ao dono do shopping Total de Curitiba, Michel Gelhorn. Três das parcelas foram entregues no próprio shopping, de acordo com Youssef.
Agenda – Já Paulo Roberto Costa apresentou como prova do repasse, uma anotação dele em sua agenda pessoal, apreendida pela Polícia Federal no dia 20 de março, três dias depois da deflagração da Lava Jato. Em uma das páginas da agenda consta, entre outras, a seguinte anotação: PB 0,1. Segundo o delator da Lava Jato, o registro significa Paulo Bernardo, R$ 1 milhão.
A senadora e seu marido sempre negaram as acusações. Gleisi alega não conhecer Youssef. Já Paulo Bernardo alegou que não pediu nem recebeu qualquer importância e que nunca falou com o doleiro. O ex-ministro chegou a admitir que conhece o dono do shopping citado por Youssef, mas negou que a campanha de sua mulher tenha recebido recursos do esquema.
Clube vip – Pessoa é suspeito de liderar o ‘clube vip’ de empreiteiras alvo da Lava Jato, que investiga corrupção e propina na Petrobrás. No documento, ele alega cerceamento de defesa por falta de acesso a documentos e depoimentos prestados em delações premiadas, considerados imprescindíveis para responder à acusação.
Provas amplamente utilizadas contra o denunciado são mantidas em sigilo sem que ele tenha a oportunidade de conhecê-las por inteiro e possa rebatê-las, afirmam os criminalistas Alberto Toron, Carla Vanessa Domenico, Renato Marques Martins e Luisa Moraes Abreu Ferreira, que defendem o executivo. A defesa do executivo fez ainda uma ‘reclamação’ à Justiça. Segundo os advogados, as empresas Odebrecht e Andrade Gutierrez estão na denúncia do Ministério Público, como partes constituintes da ‘organização criminosa’, mas não fazem parte da ação penal.
A denúncia sustenta que a dita organização criminosa era constituída, entre outras empreiteiras, pela Odebrecht e Andrade Gutierrez. Ocorre que não se vê nenhum controlador ou mesmo executivo destas empresas no polo passivo desta ação penal.