FELIPE GUTIERREZ BUENOS AIRES, ARGENTINA – No banheiro onde o promotor Alberto Nisman foi encontrado morto não havia material genético de outra pessoa. A informação veio de um comunicado da investigadora do caso, Viviana Fein. “Na camiseta, shorts, pistola, carregador, cartuchos e cápsulas se verificou o mesmo perfil genético, que coincide com o da mostra tirada do falecido”, informa o comunicado. Nisman morreu com um tiro na cabeça no banheiro de seu apartamento em um edifício de Puerto Madero, quatro dias depois de denunciar a presidente Cristina Kirchner de encobrir os responsáveis por um antigo atentado terrorista a um centro israelita em Buenos Aires. No mesmo comunicado, Fein revelou que câmeras do prédio estavam com defeito e que não há gravações de imagens do elevador de serviços e das escadas.

A investigação foi tema de uma polêmica entre o governo argentino e um senador norte-americano. O republicano da Florida Marco Rubio pediu ao secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que fizesse pressão por uma investigação independente, com apoio internacional. Rubio enviou uma carta a Kerry na qual se dizia “profundamente preocupado com a inabilidade do governo da Argentina de conduzir uma investigação justa e imparcial”.

O chefe de gabinete de Cristina Kirchner, Jorge Capitanich, reagiu dizendo que a iniciativa de Rubio é imperialista. “Não aceitamos intromissão de nenhum país”, afirmou. Ele também disse que o senador dos EUA desconhece as regras das Nações Unidas e o princípio de autodeterminação dos povos. Em um ato na Casa Rosada com aliados e militantes, Cristina também disse que pode falar o que quiser sobre o caso, pois tem liberdade de expressão. Trata-se de uma resposta a um dirigente de uma associação de juízes, que afirmou que as hipóteses que a presidente apresenta sobre a morte podem interferir na investigação. “Desde o presidente da Suprema Corte até o último dos juízes e promotores podem falar. Como eu, que sou a presidente, não posso? Ninguém de outro poder pode dizer para a presidente calar a boca.”

Ela também fez uma referência a Diego Lagomarsino, o técnico de informática que emprestou a arma usada na morte de Nisman. Apesar de não citá-lo, Cristina fez referência a um tuíte publicado por ele em 2013, no qual xingou violentamente a presidente. Em outra referência ao caso do promotor morto, pediu para que “não tragam conflitos” de outros países para a Argentina. O ato aconteceu em uma Casa Rosada lotada de militantes. Apoiadores do governo encheram dois pátios do prédio e também ocuparam uma parte do salão onde Cristina fez sua conferência. Uma das pessoas era a aposentada Célia Gonzales, 62, que havia ido ao ato com vizinhas da Villa 21, uma favela de Buenos Aires. “Vão usar o caso de Nisman contra Cristina, mas ao povo isso não interessa. Nós sabemos que os grandes meios estão fazendo um atentado contra a democracia”, afirmou. A militante Laura Consentino, 31, do grupo Kolina, afirmou que os apoiadores apareceram em grande quantidade porque “o nível de agressão que estão dirigindo à Cristina é altíssimo. Todos que a seguem vão fazer o que puder para apoiá-la”.