JOÃO CARLOS MAGALHÃES
BRASÍLIA, DF – A “moratória da soja”, acordo feito em 2006 por gigantes da agroindústria para não comprar soja de áreas destruídas na Amazônia, foi essencial para brecar o desmatamento e não deveria acabar no ano que vem, como planejado.
A conclusão consta de um estudo conduzido por pesquisadores americanos e brasileiros, publicado no semana passada na prestigiosa revista “Science”.
As conclusões são baseadas na análise, por meio de sistemas de monitoramento por satélite, do impacto da cultura no bioma amazônico antes e depois da moratória.
Nos dois anos que precederam o acordo, dizem os pesquisadores, quase 30% da expansão de plantações de soja na região ocorreu por meio de desflorestamento, e não uso de pastagem ou outras áreas já sem vegetação.
Já no ano passado, oito anos após o acordo, esse percentual chegou a aproximadamente 1%.
O trabalho também analisa a evolução da soja no bioma do Cerrado, onde a moratória não se aplica. Lá, a porcentagem de plantações feitas sobre áreas nativas se manteve alta, variando entre 11% e 23%. Na região conhecida como Mapitoba (Maranhão, Piauí, Tocantins, and Bahia) essa porcentagem é ainda maior em torno de 40%.
O estudo também demonstra a importância da moratória, uma ação de regulação econômica, em comparação com políticas estatais para barrar a destruição da mata.
Os pesquisadores analisam o impacto da implantação do CAR (Cadastro Ambiental Rural) que, governo espera, pode ajudar a barrar a destruição da floresta e concluem que, sozinho, ele não é efetivo para preservar a Amazônia.
“Em 2014, por exemplo, quase 25% da destruição da Amazônia em Mato Grosso e 32% no Pará ocorreram em propriedades registradas. Nos dois Estados, quase metade do desmatamento ocorreu em áreas de reserva legal, que deveriam ser protegidas, segundo Código Florestal.”
Para Paulo Barreto, da ONG Imazon e um dos coautores do paper, “o estudo mostra que o comprometimento do setor privado contra o desmatamento é essencial”.
“No caso da soja, deveria ser expandido para o Cerrado. No caso da carne, o acordo dos frigoríficos para comprar gado apenas de fazendas legais deve ser expandido para todas as fazendas, inclusive aquelas especializadas na produção de bezerros que são vendidos para as fazendas de engorda. Além disso, os bancos deveriam financiar apenas as fazendas que não desmataram ilegalmente”, disse à reportagem.