SÃO PAULO, SP – Tropas da Nigéria repeliram ataques de extremistas islâmicos que Maiduguri, a maior cidade da região nordeste do país, neste domingo (1).
Vários civis foram vitimados por ataques aéreos, granadas e morteiros -e soldados afirmaram que centenas de insurgentes também morreram.
Amedrontados com a ação, os habitantes correram para suas casas tentando escapar da morte durante as cinco horas em que a artilharia pesada abriu fogo contra essa cidade onde vivem dois milhões de pessoas e que agora abriga outros 200 mil refugiados.
Por semanas, o grupo Boko Haram cercava Maiduguri, cidade identificada como o seu “nascimento espiritual” e onde gostaria de implantar seu Estado de inspiração islâmica, mesmo que por pouco tempo.
Com isso, teria uma retaguarda nos casos em que, no calor das ações armadas, for necessário recuar ao perder terreno em outras áreas mais remotas, disse Jacob Zenn, autor de um livro sobre os insurgentes.
O terceiro ataque a Maiduguri em uma semana aconteceu depois que forças do Chade lançaram uma ofensiva baseada numa diretriz da União Africana para ajudar na luta contra a expansão da influência islâmica capitaneada pelos extremistas do grupo Boko Haram.
Uma reação internacional tem se traduzido em ataques através da fronteira da República dos Camarões e a crescente ferocidade que culminou com o massacre de centenas de civis na cidade de Baga, no dia 3 de janeiro.
Apoiado por forças terrestres, um avião-caça do Chade bombardeou os extremistas, que recuaram de Gamboru e de Kolfata, no sábado (31), e de Malumfatori, na quinta-feira (29), segundo testemunhas.
Tropas do Chade lotadas em Kolfata “dançaram e comemoraram ao redor de sua bandeira”, contou o fazendeiro Awami Kolobe, que testemunhou o retorno de refugiados através da fronteira da República de Camarões. As cidades dessa região vêem sendo lentamente ocupadas pelo grupo Boko Haram há meses.
Gamburu dista cerca de 140 km a nordeste de Maiduguri e Baga está a outros 100 km ao norte de Gamboru, no lago Chade, onde as fronteiras da Nigéria alcançam as da República dos Camarões, do Chade e do Níger.
Líderes africanos presentes à uma conferência no sábado (31) acordaram a criação de uma força conjunta de 7.500 homens para combater o Boko Haram.
Em represália, o grupo islâmico alertou a coalizão dizendo que vai atacar o Níger se as tropas forem usadas, da mesma maneira que se voltaram recentemente contra a República dos Camarões.
Em Maiduguri, um oficial do exército declarou que os insurgentes estavam “em todos os lugares”, atacando as quatro estradas locais e tomando o rumo da cidade. Outro oficial estimou em centenas, talvez em 500, os insurgente mortos e disse que armas, inclusive de artilharia e granadas, foram recuperadas.
Ambos falaram preservando suas identidades, pois supostamente não deveriam dar declarações a repórteres. Testemunhas, também anônimas, disseram que jatos militares nigerianos mataram civis e que muitas casas foram atingidas por bombas, incluindo no bairro de Zannari, onde sete pessoas morreram.
Ahamadu Marima disse que tropas atiraram e mataram cinco jovens que integravam um grupo de defesa civil no subúrbio de Abujantalakawa achando que se tratassem de insurgentes. Um ancião e sua neta morreram quando um morteiro explodiu no jardim diante de sua casa, ferindo uma segunda menina.
O governo declarou estado de emergência em três Estados da Nigéria em maio de 2013, isso depois que o Boko Haram passou a controlar dezenas de vilas e cidades. Então, tropas rapidamente expulsaram os insurgentes, mas, desde então, menos equipadas e desmoralizadas, vêm perdendo terreno.
Em agosto, o grupo Boko Haram declarou-se um califado islâmico e agora está presente em 130 cidades e povoados.
REAÇÃO OFICIAL
O porta-voz do ministro da Defesa da Nigéria, general Chris Olukolade, afirmou que os ataques dos militantes do Boku Haram em Maiduguri foram duramente repelidos e que os rebeldes sofreram pesadas baixas.
O grupo Boko Haram começou as suas operações de guerrilha em 2009 com o propósito de criar um Estado islâmico. Os conflitos mataram ao menos 1,5 milhão de pessoas, mais de 2.000 delas só no ano passado.
Fundado em 2002 e inicialmente focado na oposição da educação ocidentalizante, o Boko Haram herdou se nome do dístico “a educação ocidental é proibida” em língua hauçá.