Há 16 anos o Carnaval curitibano tem uma cara muito mais rock and roll. Em fevereiro, além de foliões e suas fantasias, a cidade é tomada por uma turba de topetudos com trajes surrados e jaquetas de couro. O samba, então, dá lugar ao psychobilly — um gênero musical que mistura punk com o rockabilly norte-americano e uma série de elementos bizarros. E um dos grandes culpados disso é Vladimir Urban, o Vlad. Guitarrista e produtor cultural, ele já tocou em formações como a mítica Os Catalépticos, e é um dos idealizadores do Psycho Carnival, evento criado em 1999 e que neste ano acontecerá entre os dias 13 e 16 de fevereiro no Espaço Cult, no Largo da Ordem. Como se não bastasse, ainda é sócio na produção da cerveja Diabólica, que pode ser considerada a bebida oficial dos psychobillys de Curitiba.

A trajetória de Vlad confunde-se com a própria historia do psychobilly em Curitiba. Uma cena pequena, mas independente e muito forte, assim como o ícone Urban, do alto de seus 1,74 metros de altura. Eu sou um roqueiro, um cara que tenta viver desse jeito, com o rock, fazendo eventos. Quero entender o mundo, entender como as coisas funcionam, para cada vez fazer um evento mais legal e que consiga manter essa coisa do verdadeiro viva, para não perder essa coisa de você saber o que é legal independentemente do que as pessoas te falam que é legal. E eu vou me forjar nisso, essa é a minha história, afirma.

Sobre o Psycho Carnival, Vlad lembra que o evento nasceu quase que por acaso. Quando surgiu o Psychobilly Fest, eu estava meio afastado, mas lembro que fui no evento e achei do caralho. Depois com Os Catalépticos começamos a nos envolver mais. E o Psycho Carnival surgiu até meio sem querer. Um cara que era fã nosso entrou em contato por e-mail e falou que queria fazer o site. Ele tinha uma banda chamada Skatfiles e queria fazer um show no Brasil. Eu falei ‘porra bicho, demorou né’. E aí marcamos para fevereiro. Como eles estavam vindo, resolvemos marcar um festival, e como era perto do Carnaval resolvemos chamar de Psycho Carnival. E foi do caralho, porque foi a primeira vez que a galera do psychobilly veio para Curitiba. E aí chamou a atenção, veio todo mundo ver, lembra Vlad.

Acontece que a data, escolhida por acaso, acabou mostrando ser a perfeita para a realização do evento, que acabou se tornando uma espécie de encontro anual dos psychobillyes. O Psycho Carnival começou a estourar porque era uma época que não tinha nada na cidade, era muito mais fácil para as pessoas virem para cá. Era o momento ideal para fazer qualquer festival, diz Vlad. Então imagine, Os Catalépticos tinha acabado de fazer uma turnê fora, estávamos muito fortes, e a cena também estava crescendo, o Ovos Presley fazendo só show animal… Então o Psycho Carnival acabou se tornando o encontro da galera do psychobilly, todo mundo podia viajar, não precisava enforcar trabalho. E tinha o fórum de psychobilly na internet ainda, que foi muito importante.

Desde sua criação, o festival já trouxe atrações como os americanos Barnyard Ballers, que neste ano desembarca novamente no festival, e os holandeses do Cenobites. Além disso, foi palco da última apresentação d’Os Catalépticos, em 2006, e viu também nascer a banda Sick Sick Sinners, que conta com Vlad na guitarra e vocal e Cox no baixo acústico, ambos ex-Catalépticos.

Até hoje, com a ajuda de Vlad e outros personagens como Wallace Barreto (Ovos Presley), a cena se mantém forte. Mas sempre independente e underground. É um embriãozinho que começou lá atrás com Os Missionários e foi crescendo. É uma cena que tem hoje o festival e diversas bandas que se não são todas de psychobilly, se relacionam com o psychobilly. E cada encontro, cada show vai fomentando a parada. Essa troca é o grande lance. Isso é o que vai alimentando nossa alma para continuar fazendo coisa errada, finaliza.