DIOGO BERCITO MADRI, ESPANHA – A facção radical Estado Islâmico (EI) divulgou nesta quinta-feira (26) um vídeo em que militantes aparecem destruindo estátuas e esculturas milenares em Mossul, cidade iraquiana sob controle do grupo desde junho. As imagens foram gravadas em um museu de Mossul, no norte do país. A destruição é justificada pelos milicianos a partir do argumento de que Maomé, profeta do islã, destruiu os “ídolos” ao conquistar Meca, no século VII. No vídeo, militantes aparecem empurrando estátuas de cima de seus pedestais.

As cenas das relíquias se despedaçando no chão são acompanhadas por versos do Corão, livro sagrado do islã, e sons de disparos. Outras esculturas são destruídas a marteladas. As relíquias destruídas pela facção já existiam quando Maomé, segundo a tradição, destruiu os ídolos de Meca. Mas, segundo o EI, esses artefatos não eram visíveis àquela época e foram posteriormente escavados por “adoradores do demônio”. As estátuas vinham em grande parte da cidade assíria de Nínive, próxima de Mossul, segundo informações preliminares. Elas têm grande valor cultural e são testemunhos da civilização assíria, que habitou o norte da mesopotâmia. Algumas das relíquias datavam no século VII a.C. “Não é somente um patrimônio do Iraque, mas de todo o mundo. É um patrimônio da humanidade”, declarou à Reuters a arqueóloga Lamia al-Gailani. “[As estátuas] não têm preço. É inacreditável. Não quero ser mas iraquiana”, completou.

DANO

As regiões tomadas ou ameaçadas pelo Estado Islâmico, um extenso território que se espalha entre Síria e Iraque, têm uma rica herança histórica que inclui artefatos de antigos impérios, como os da Babilônia e da Assíria. Nínive é famosa por, entre outros motivos, uma biblioteca de tabletas cuneiformes organizada por seu rei Assurbanípal (690 a.C – 627 a.C). Sítios arqueológicos e artefatos estão em risco na região, já que a rígida visão religiosa defendida pelo EI condena a ideia de idolatria. Também são afetados locais importantes ao próprio Islã. Ainda nesta semana, havia sido divulgado um saque à biblioteca da cidade, com a destruição de 100 mil livros e manuscritos, incluindo exemplares otomanos.