DANIELA LIMA SÃO PAULO, SP – Poucas vezes quatro senadores tucanos deram uma demonstração tão enfática de que sabem trabalhar juntos. Cassio Cunha Lima (PB) deu a ideia. Aécio Neves (MG) escreveu o cartaz: “Foi FHC”. José Serra (SP) sacou uma nota de R$ 2 do bolso. Estava amarfanhada. Tasso Jereissati (CE) tirou então uma cédula novinha da carteira e entregou-a ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

FHC posou rindo para a fotografia, divulgada em seguida na internet como uma resposta irônica ao ataque sofrido há uma semana, quando a presidente Dilma Rousseff afirmou que a corrupção na Petrobras deveria ter sido investigada em seu governo. Foi, provavelmente, o momento mais leve do longo almoço em que o ex-presidente e a cúpula de seu partido no Senado discutiram os rumos do país. À mesa nesta sexta-feira (27), ainda que em tom ameno, os tucanos projetaram um cenário sombrio.

“Daqui a seis meses, vamos sentir saudade da economia como está hoje”, afirmou Serra, segundo um dos presentes. FHC contou que esteve recentemente com o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e resumiu suas impressões, deixando no ar a sensação de que Fraga prevê um “colapso econômico”. Os tucanos chegaram a um consenso sobre os movimentos que pedem o impeachment de Dilma: defenderão as manifestações, mas sem envolver o partido.

“Quanto mais populares, mais fortes serão os protestos”, opinou Aécio, segundo um participante do almoço. Serra e FHC manifestaram preocupação. Eles concluíram também que, em caso de impedimento da presidente, haverá cobranças para que o PSDB colabore com o novo governo. Na avaliação dos tucanos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem procurado manter distância das medidas econômicas impopulares tomadas por Dilma e trabalha para reagrupar o movimento trabalhista, de olho nas eleições presidenciais de 2018. As investigações da Operação Lava Jato também foram debatidas no almoço.

“Quando a lista for divulgada, será o começo do fim”, disse Serra, numa referência aos nomes dos políticos que deverão ser alvo de inquéritos. Para ele, o envolvimento de nomes de diversos partidos, somado ao desajuste econômico, engrossará o caldo de uma grave crise institucional. Na saída, Aécio disse aos repórteres que o partido não teme o envolvimento de nomes ligados ao PSDB no escândalo. No caminho para o carro, o mineiro posou para selfies com admiradores. Dentro do carro, Serra pegou seu telefone e postou outra mensagem irônica numa rede social, uma fotomontagem com o rosto de Fernando Henrique e a legenda: “Descoberto o líder da greve dos caminhoneiros… Foi FHC!”