LEANDRO COLON, ENVIADO ESPECIAL MOSCOU, RÚSSIA – Diante de forte esquema de vigilância policial, milhares de pessoas participaram de uma marcha neste domingo (1º) em Moscou em homenagem ao líder de oposição Boris Nemtsov, assassinado sexta-feira (27) a poucos metros do Kremlin. Os manifestantes levaram cartazes com a imagem de Nemtsov, faixas com frases de repúdio à sua morte, fitas pretas e bandeiras russas. “Não tenho medo”, “Morreu pelo futuro da Rússia”, diziam alguns cartazes. Outros, mais discretos, provocavam o presidente Vladimir Putin, que era adversário político de Nemtsov. A marcha contou com a presença de líderes da oposição, entre eles Michail Kasyanov e Ilya Yashin. Ambos têm acusado Putin de incitar o ódio e a perseguição contra seus oponentes. Sob pressão internacional, o presidente russo condenou o crime e tem prometido que as autoridades vão investigá-lo. A reportagem da Folha acompanhou todo o percurso da marcha, que durou cerca de duas horas e ocorreu sem incidentes. Centenas de policiais de Moscou monitoravam de perto cada passo da caminhada. Para acompanhá-la, era preciso passar por um detector de metais. A manifestação terminou na ponte onde Nemtsov foi morto com quatro tiros de uma pistola 9 mm, por volta das 23h40 (horário local) de sexta, quando caminhava com a companheira após um jantar. O comitê que investiga o caso já declarou não ter dúvidas de que foi algo premeditado. O local do crime, na região turística mais famosa de Moscou, tem recebido homenagens com flores e velas desde a noite de sexta. “É uma tragédia essa situação política na Rússia. O governo tem o controle de tudo, e não consigo imaginar uma situação melhor tão cedo”, diz a professora universitária Tatiana Ivanosa, 45, que percorreu o trajeto com uma flor para ser depositada no local do assassinato. Na companhia dos pais, o estudante Igor Mastulim, 19, segurava uma placa “Nós não nos assustamos”. Simpatizante política de Nemtsov, a economista Olga Risanova, 31, considerou o evento deste domingo importante para mostrar que a oposição continua ativa na Rússia, dominada politicamente por Putin. “O discurso de Nemtsov precisa continuar”, afirmou. Não há ainda números exatos de quantas pessoas participaram do protesto. A polícia russa chegou a afirmar 7 mil, mas os organizadores discordam e falam em mais de 50 mil, número máximo permitido pelas autoridades locais. Inicialmente, antes da morte de Nemtsov, estava prevista para este domingo uma manifestação no subúrbio de Moscou contra o governo de Putin, inclusive com a presença do líder político assassinado. Com o episódio de sexta à noite, o local e a razão do evento mudaram.