RAFAEL GARCIA, ENVIADO ESPECIAL PIRACICABA, SP – O município de Piracicaba deve receber antes do final de abril os primeiros mosquitos Aedes aegypti geneticamente modificados criados para combater a dengue soltos no estado de São Paulo. A prefeitura anunciou nesta segunda-feira (2) um convênio com a empresa britânica Oxitec, fabricante dos insetos alterados, para a realização de um projeto de pesquisa no município.

Após testes em Juazeiro e Jacobina, na Bahia, a empresa já obteve aprovação da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) para soltar os animais. A Oxitec não pode ainda comercializar o serviço, pois aguarda uma licença da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tal. Técnicos da Oxitec e agentes de saúde da prefeitura de Piracicaba começaram hoje a fazer um trabalho de campo para informar os moradores do bairro do Cecap, área da cidade com maior concentração de casos de dengue, onde os mosquitos da empresa serão soltos. Piracicaba já teve 88 casos da doença registrados neste ano, comparados com apenas 26 no mesmo período do ano passado.

O Cecap concentra 20% da incidência do município. “Não esperávamos esses números agora, justamente num período de crise hídrica”, afirma o prefeito Gabriel Ferrato dos Santos, para quem a cidade não está ruim diante dos municípios vizinhos. “Gastamos de R$ 6 a R$ 7 milhões aqui só para fazer os trabalhos para controlar a disseminação do mosquito, sem contar o custo do tratamento dos pacientes. Mas como homens públicos nós temos a obrigação de testar alternativas.”

MILHÕES DE INSETOS

Para tentar eliminar a maior parte da população do A. aegypti no Cecap, onde vivem cerca de 5.000 pessoas, a Oxitec deve soltar algo entre 20 milhões e 40 milhões de mosquitos ao longo de dez meses. Os insetos geneticamente modificados, fabricados pela Oxitec em sua unidade de Campinas, são todos machos, portanto não picam. A idéia de soltá-los no ambiente é que eles são estéreis, mas mesmo assim buscam as fêmeas selvagens para fecundá-las. Ao monopolizar o ciclo reprodutivo da fêmea para a produção de um ovo e inviabilizar a eventual fecundação por um macho selvagem saudável, a o número de insetso começa se reduz de uma geração para outra. Nos testes de Jacobina e Juazeiro, as populações do A. aegypti se reduziram em mais de 90%.

DO BEM

Para o projeto a ser realizado em Piracicaba, a Oxitec rebatizou seus mosquitos como “Aedes aegypti Do Bem”. Para o trabalho de conscientização dos moradores, foi montado um stand de informação na frente de um supermercado situado na entrada do bairro. No local, técnicos da empresa mantêm uma gaiola de tela cheia de mosquitos geneticamente modificados e convidam os pedestres a conhecerem o projeto. Quem quiser pode colocar a mão dentro da gaiola, uma forma dos técnicos de demonstrar que os mosquitos não picam. A Oxitec teve de enfrentar movimentos de rejeição à soltura do mosquito em Key West, na Flórida, onde um teste deve ser realizado neste ano, e busca evitar que o episódio se repita. Segundo Glenn Slade, diretor da Oxitec no Brasil, 80% dos moradores da cidade americana são favoráveis ao projeto, depois da realização de um trabalho de engajamento público.