PAULA SPERB
CAXIAS DO SUL, RS (FOLHAPRESS) – Gasolina a quase R$ 4 o litro, crianças sem aula e sem lanche, hospital sem remessa de remédios, ambulância sem combustível e leite jogado fora são algumas das consequências da paralisação dos caminhoneiros no Rio Grande do Sul.
Em Humaitá (a 383 km de Porto Alegre), um posto cobrava R$ 3,99 pelo litro de combustível. O proprietário do local foi conduzido à delegacia no último sábado (27). Ele será indiciado sob suspeita de crime contra a economia popular, de acordo com o delegado William Garcez.
“Mesmo que haja escassez, esse aumento não é lícito”, explica o delegado.
Em Três Passos, também no noroeste gaúcho, 1.500 alunos da rede pública estão sem aulas. Segundo a secretária municipal de Educação, Neiva Fátima Becker, não há gasolina para abastecer os ônibus que transportam as crianças.
Além disso, faltam alimentos como legumes e frutas para as refeições fornecidas pelas escolas. Para evitar que 800 crianças atendidas pelas creches ficassem sem comida, a prefeitura suspendeu as aulas dos alunos maiores.
“Precisamos garantir o lanche dos pequenos, não há perspectiva de normalização”, disse a secretária.
Medicamentos não chegam ao hospital Vida e Saúde, em Santa Rosa (a 400 km de Porto Alegre), desde a semana passada. O hospital está operando apenas com o estoque, que é limitado.
“Contratamos uma van para buscar medicamentos em uma distribuidora”, diz Vanderli de Barros, diretora do hospital, que faz cerca de 12 mil atendimentos por mês.
O hospital também forneceu gasolina estocada para o gerador de energia para as ambulâncias do Samu.
O setor de laticínios também está sendo prejudicado no Estado. A cooperativa Santa Clara, da cidade de Carlos Barbosa, na serra gaúcha, possui 3.600 famílias cooperadas e precisou jogar leite fora, já que não há como transportar o alimento.
“São matérias-primas perecíveis, todos os dias precisamos dar destinação”, explica Alexandre Guerra, diretor administrativo.
Também no Rio Grande do Sul, uma liminar passou a proibir que crianças e adolescentes participem dos protestos dos caminhoneiros que ocupam a BR-101, no trecho de Três Cachoeiras (a 141 km de Porto Alegre).
A Justiça determinou também uma multa de R$ 10 mil a quem descumprir a orientação. O objetivo é evitar que os menores sejam usados “como forma de pressão para alcançar êxito nas reivindicações da categoria”, segundo o promotor Vinícius de Melo Lima, de Torres (RS), autor da ação civil pública.
PARANÁ
Já em Foz do Iguaçu (PR), os ônibus do transporte coletivo circularam apenas nos horários de pico (das 5h às 8h30 e das 16h30 às 19h) nesta segunda (2). O objetivo da prefeitura foi economizar combustível, para que seja suficiente até a próxima sexta (6).
A frota de coletivos na cidade é de 150 ônibus. Por dia, cerca de 60 mil pessoas usam o serviço, inclusive turistas, para chegar nos pontos famosos da cidade.