ALEX SABINO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Bate no canto do goleiro.”
“Hein?”
“Bate no canto do goleiro.”
O atacante Rafamar não seguiu a voz da experiência. Tentou encobrir a barreira e chutou para fora. Minutos mais tarde, o juiz marcou falta exatamente no mesmo local. O responsável pelo conselho assumiu a responsabilidade e fez o gol batendo exatamente como havia aconselhado: mandando a bola no canto do goleiro.
Paulo Almeida empatou a partida para o Vitória da Conquista, que terminou vencendo o Serrano por 2 a 1, pelo Campeonato Baiano no último domingo (1º). Quem acompanha o futebol escuta há tantos anos falar no nome do volante campeão brasileiro pelo Santos em 2002 que pode ficar surpreso ao descobrir que ele tem apenas 33 anos.
“Eu apareci muito cedo e fui obrigado a amadurecer rápido. Jogar no Santos naquela época não era fácil”, se recorda.
Ele foi o mais jovem capitão de uma equipe campeã brasileira. Levantou a taça aos 21 anos. Foi da mesma geração que Robinho e Diego. O atacante voltou à Vila Belmiro pela terceira vez e o meia está na Turquia, no Fenerbahçe.
Almeida tenta espremer o que lhe resta da carreira no Vitória da Conquista. Nesta quarta (4), enfrenta o Palmeiras pela Copa do Brasil.
“O torneio é uma vitrine. Não só para mim, mas para os garotos”, analisou, em entrevista à reportagem por telefone.
Daquela geração santista campeã nacional em 2002 e vice da Libertadores no ano seguinte, ele foi um dos primeiros a ir para a Europa, vendido para o Benfica, de Portugal. As coisas não aconteceram como esperava e voltou para o Brasil. Em 2006, chegou a um Corinthians já mergulhado na crise que culminaria com o rebaixamento para a Série B em 2007.
A partir daí, a carreira do volante passou a ser vagar por times pequenos do interior. Equipes que veem a Copa do Brasil exatamente da mesma forma que Paulo Almeida: o grande momento para aparecer nos grandes centros do país.
“A gente tem conversado bastante sobre isso. O Campeonato Baiano não tem a mesma visibilidade. O Vitória da Conquista é jovem. Tem apenas dez anos de fundação. Este jogo contra o Palmeiras é o mais importante da história do clube”,  concorda.
Em 2008, por exemplo, desempregado, ele aceitou convite para ir jogar no Saba Qom, do Irã. Estava com 27 anos. 
“Eu cheguei a pensar em parar. Isso passou pela minha cabeça. Estava chateado com algumas coisas e relaxei demais. Só fiquei em casa, não queria sair. Mas depois resolvi tentar de novo porque o amor que eu sinto pelo futebol é o mesmo. Pouco importa que seja no Santos, no Corinthians ou no Vitória da Conquista. Não faz diferença, o amor é o mesmo de sempre”, confessa.
Talvez por isso que, quando o Santos foi derrotado pelo Boca Juniors na final da Libertadores de 2003, a maioria dos jogadores reagiu com uma tristeza discreta. Paulo Almeida saiu do gramado do Morumbi chorando copiosamente.  
O cabeça de área estava em casa, na pequena cidade de Itarantim, quando foi chamado no início do ano pelo Vitória da Conquista, a apenas 123 quilômetros de distância. Por que não aceitar o convite? Pode ser uma porta de entrada para disputar o Campeonato Brasileiro. Ele afirma já ter recebido sondagens de agremiações das Séries B e C. O time baiano em que agora atua como segundo volante e faz gols de falta é líder do Campeonato Baiano e está invicto na temporada.
“Cheguei a um momento em que não planejo o futuro. Vou pensando no dia a dia. Agora é o Palmeiras e o objetivo de levar a decisão para São Paulo. Depois a gente vê o resto”.
Desapegado do passado, ele tem pouco contato com os ex-colegas campeões brasileiros. Fala mais com funcionários do Santos de sua época. Entre os jogadores, mantém mais contato com Renato. Não que isso seja um problema. Reconhece ser parte da vida e que o futebol faz as pessoas se afastarem. O que ficou para Paulo Almeida foi a história e o que ainda pode ser feito, desta vez pelo Vitória da Conquista.
“É igual a uma escola. Você convive todos os dias com os amigos mas seja uma hora em que cada um vai para um canto. Lembrança a gente sempre tem. Eu fico feliz por ter marcado de alguma forma. A gente fez o Santos renascer”.