ARTUR RODRIGUES E FELIPE SOUZA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou na manhã desta terça-feira (3) que ampliará o programa de Braços Abertos para combater as pequenas cracolândias. “É um trabalho contínuo. Barra [a expansão] porque quando as pessoas tem oportunidade, elas abraçam. Hoje nós já temos 500 pessoas em tratamento”, disse.
A Folha de S.Paulo mostrou nesta terça (3) que pontos de uso de crack fora do centro inflaram e se tornaram ‘favelinhas’. O local mais crítico fica nos arredores do Ceagesp, na Vila Leopoldina (zona oeste de SP).
Haddad disse, porém, que o governo estadual é o principal órgão responsável pelo combate às drogas. “Obviamente que a parte do combate ao crack, ao traficante, é uma atribuição dos órgãos de segurança pública, mas temos de dar algum tipo de assistência para aqueles que buscam atendimento médico, sobretudo ambulatorial e querem se recuperar”, afirmou durante evento de inauguração do Nar (Núcleo de Alto Rendimento Esportivo), em Santo Amaro, na zona sul da capital.
O programa Braços Abertos dá emprego e hospedagem aos viciados. A prefeitura pretende ampliá-lo para seis locais da cidade. Entre eles, está o ponto de uso no Ceagesp.
CRÍTICAS
O padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, critica a falta de atendimento adequado nas cracolândias espalhadas para a cidade.
Para ele, esses locais não têm a mesma visibilidade do ponto de uso de drogas da da Luz (região central), onde há programas de assistência social e saúde.
“A atenção que é dada na cracolândia da Luz é motivada muito mais pela questão política e imobiliária”, afirma o padre.
Lancelotti lembra que a maioria dos focos de uso de crack fora do centro surgiu após a operação da Polícia Militar em 2012, com enfoque repressivo, que afastou os viciados da região central.
Para ele, os viciados necessitam de um atendimento em rede, com apoio dos chamados CAPs (Centros de Atenção Psicossocial).
Mesmo na cracolândia da Luz, afirma o padre, o atendimento não é o ideal.
A antropóloga Taniele Rui, autora do livro “Nas Tramas do Crack – Etnografia da Abjeção”, afirma que cada uma das concentrações de usuários têm uma dinâmica diferente. Em comum entre vários desses pontos, porém, há a utilização de barracas e barracos pelos viciados.
“As barracas são tentativas de fixação espacial e, na minha visão, se inscrever no espaço é uma tentativa de lutar contra a eliminação”, afirma ela, que percorreu locais de uso de crack em São Paulo e Campinas para sua pesquisa.