EMILIO SANT’ANNA SÃO PAULO, SP – Um grupo de ativistas começou a deixar às 5h45 desta quarta-feira (4) um terreno em que reivindicam a criação do parque Augusta, na região central de São Paulo. A ordem de reintegração de posse foi expedida pela Justiça, após mais de dois meses de ocupação. O oficial de Justiça chegou ao local por volta das 5h30 com o mandado de reintegração de posse para entregar ao advogado dos ativistas. Depois de uma negociação com os policiais militares, o advogado informou que o grupo deveria deixar o local. Dos quase 300 ativistas que estavam no terreno nesta manhã, boa parte concordou em sair. Poucas pessoas reclamaram gritando contra a decisão. O grupo disse que vai deixar o terreno e seguir à prefeitura para protestar. Durante a madrugada, quase 500 pessoas se reuniram no terreno ocupado para protestar pacificamente. O terreno pertence às construtoras Setin e Cyrela e ali as empresas planejam erguer ali três edifícios. O Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) aprovou o projeto no dia 27 de janeiro. Desde o início do ano, o movimento Organismo Parque Augusta (OPA) e outros manifestantes mantinham uma vigília cultural na área, com ativistas se alternando no acampamento montado no local e atividades culturais. A intensa movimentação e atrações no local acabou também por atrair a atenção dos moradores da região que passaram a frequentar o terreno, uma das poucas áreas verdes do centro da cidade. Em dezembro de 2013, o prefeito Fernando Haddad (PT) aprovou a criação do parque, mas a Secretaria Municipal do Verde informou que não conseguiria arcar com os custos de desapropriação da área –estimada, na época, em R$ 70 milhões. O terreno é tombado pelo órgão municipal desde 2004. Nos cerca de 25 mil metros quadrados da área estão árvores nativas da mata atlântica e o que restou de um tradicional colégio particular demolido nos anos 1970. As últimas horas dos ativistas no local teve aulas públicas e uma vigília durante a madrugada à espera da chegada da PM. Desde a tarde de terça (3), as barracas e pertences dos manifestantes já haviam começado a ser retiradas do local. A saída do grupo foi pacífica, não houve confronto com a PM e ninguém se feriu. Por volta das xh, todos as barracas e pertences dos manifestantes já haviam sido recolhidos. “Não queremos confronto”, disse Daniel Biral, do grupo Advogados Ativistas, que representa o movimento. Nas últimas semanas até mesmo um painel de energia solar e uma cisterna haviam sido instaladas no local, onde também havia intensa atividade artística. No último domingo (1), os músicos Karina Buhr, Edgard Scandurra e Bárbara Eugênia se apresentaram para um público composto por ativistas e moradores da região. O evento também contou com a presença do músico Arnaldo Antunes. “Tudo o que tentamos [na Justiça] foi negado”, afirmou o advogado. Ele, no entanto, afirma que a saída dos manifestantes não significa que o movimento tenha se esvaziado. Agora, o grupo espera pela intervenção do Ministério Público. Uma representação junto ao órgão resultou na instauração de um inquérito para que a compra da área seja investigada. No dia 13 de fevereiro, o Ministério Público e a Prefeitura de São Paulo anunciaram um acordo para destinar à construção do parque parte das indenizações a serem recebidas por recursos desviados pelo ex-prefeito da capital paulista Paulo Maluf (PP-SP). Os bancos Citibank (EUA) e UBS (Suíça) se comprometeram a pagar US$ 25 milhões (equivalente a R$ 71 milhões) por terem sido usados para movimentar quantias desviadas da Prefeitura de São Paulo entre 1993 e 1998. Além do auxílio do Ministério Público, o grupo corre para contar com a ajuda de vereadores. “Protocolamos na Câmara um pedido para a criação das Zonas Especiais de Regeneração Orgânica”, diz a jornalista Henny Freitas, 33. Procurada, a Setin não quis se manifestar antes do cumprimento da reintegração de posse. O representante da Cyrela não foi encontrado.