DANIELLE BRANT E TONI SCIARRETTA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar atingiu R$ 3 nesta quarta-feira (4), mas perdeu força e fechou na casa de R$ 2,98, pressionado pela derrota do governo no Congresso em relação ao ajuste fiscal e pelas incertezas sobre o programa de intervenções do Banco Central no mercado cambial. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou o dia com avanço de 2,56%, a R$ 2,978, maior patamar desde 18 de agosto de 2004, quando a moeda encerrou a R$ 2,987. Foi a maior alta diária do dólar desde 30 de janeiro deste ano. O dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, fechou com alta de 1,77%, a R$ 2,98, maior valor desde 19 de agosto de 2004, quando era R$ 2,987. A moeda foi pressionada pelas incertezas sobre a possibilidade de o governo conseguir aprovar seu ajuste fiscal e impedir um rebaixamento da nota de crédito do país pelas agências de classificação de risco. Na noite de terça-feira, o presidente do Congresso, Renan Calheiros, que foi citado na Operação Lava Jato, devolveu ao Palácio do Planalto a medida provisória com uma das principais medidas do ajuste fiscal proposto pela presidente Dilma Rousseff. Renan determinou a devolução de uma medida provisória que aumentava tributos pagos por empresas de vários setores, apresentada pelo governo ao Congresso no fim da semana passada. A retaliação amplia as dificuldades que a presidente tem encontrado para obter apoio no Congresso para as medidas de ajuste, que a sua equipe econômica considera essenciais para equilibrar as finanças do governo e recuperar a capacidade do país de crescer. “A questão política interfere bastante na percepção dos investidores em relação à capacidade de o país levar adiante o ajuste fiscal necessário para manter o grau de investimento”, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil. Para ele, a forte valorização da moeda americana em relação ao real ocorre da percepção do mercado de que o governo está com uma base frágil para levar adiante o ajuste fiscal necessário. “A perspectiva é que o cenário econômico se deteriore ainda mais ao longo do primeiro semestre, o que deve tornar mais difícil a implementação de novas medidas de austeridade fiscal necessárias para manter o grau de investimento”, ressalta. Além das dificuldades do governo no Congresso, a moeda americana sobe com a perspectiva de redução das intervenções do Banco Central no mercado de câmbio. Desde segunda, o BC tem feito leilões com um volume menor de hedge [proteção] cambial do que o habitual, o que fez os analistas acreditarem que serão renovados apenas 80% do total de US$ 9,96 em títulos que pagam a variação cambial em reais (o swap cambial tradicional). “O Banco Central já sinalizou que vai fazer neste mês a rolagem parcial dos contratos de swap que vencem no início de abril. As sinalizações são de que o BC vai intervir menos no câmbio e focar na política monetária via juros como instrumento de política monetária”, afirma Ignácio Rey, economista da Guide Investimentos. A decisão tende a pressionar o dólar para cima. “O BC tem feito intervenções no câmbio desde o final de 2013. É um período considerável para intervir no câmbio”, complementa Rey. Nesta manhã, o BC deu continuidade às suas intervenções diárias e vendeu a oferta total de até 2.000 contratos de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro). Foram vendidos 100 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1.900 para 1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a US$ 97,7 milhões. O BC também vendeu a oferta total no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril. Até agora, foram rolados cerca de 11% do lote total, que corresponde a US$ 9,964 bilhões.