RAUL JUSTE LORES
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O Departamento de Justiça americano não vai indiciar o policial Darren Wilson, 29, que matou o jovem negro Michael Brown em agosto do ano passado em Ferguson (Missouri).
O veredito do júri de Missouri, que liberou o policial em novembro, foi mantido. “Não há evidências que desmintam que o policial Wilson de fato acreditasse temer por sua segurança”, diz o relatório divulgado nesta quarta (4), feito pelo Departamento e pelo FBI, que ainda acrescenta que os testemunhos de que Michael Brown estaria se rendendo no momento que foi atingido não eram “críveis ou eram inconsistentes”.
Brown, que estava desarmado e acabava de furtar cigarros em uma loja de conveniência, foi morto com sete tiros pelo policial. Uma onda de protestos se multiplicou por diversas cidades americanas contra o abuso de violência policial contra a população negra.
O relatório da investigação também aponta inconsistências entre as testemunhas, se Brown de fato ergueu os braços na altura dos ombros com as palmas da mão para frente, dizendo “mãos ao alto, não atire”, que acabou virando o slogan de várias manifestações.
CULTURA DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL
Em uma segunda investigação feita pelo Departamento de Justiça, foi apontada uma “extensa cultura de discriminação racial” pela polícia e pelo sistema judiciário de Ferguson.
Em relatório de 105 páginas divulgado na terça (3), o Departamento de Justiça concluiu que a população negra (67% do total em Ferguson) sofre detenções, multas de trânsito e prisões de forma desproporcional.
“Temos que cicatrizar a desconfiança que existe entre a força policial e as minorias raciais”, disse nesta quarta o secretário de Justiça, Eric Holder, que é negro.
“A polícia de Ferguson precisa tomar ações corretivas estruturais. Fizemos uma série de recomendações para a implementação de uma verdadeira polícia comunitária”, falou.
“O Departamento de Justiça tem habilidades para implementar mudanças básicas. Estamos comprometidos com a população de Ferguson e de várias outras cidades, que as mudanças precisam ser implementadas”.
Holder disse que, além de “assediar desproporcionalmente” a população negra, “várias políticas da polícia local parecem mais indicadas a fazer caixa do que a fazer Justiça”, disse.
Ainda disse que a “atmosfera tensa” na cidade se deve a um “ambiente altamente tóxico” provocado pela discriminação racial.
No relatório da segunda investigação, o governo apurou diversos casos em que pessoas negras foram algemadas por “invadir casas e apartamentos”, quando na verdade eles eram os proprietários dos imóveis.
Em e-mails de supervisores da polícia de Ferguson, piadas e comentários racistas foram descobertos. Uma mensagem de 2011 faz piada sobre a reeleição do presidente Barack Obama. ‘Que homem negro consegue segurar um emprego por quatro anos?”, dizia um policial. Montagens fotográficas mostravam Obama como um chimpanzé e mulheres africanas em topless como “aniversário de formatura da [primeira-dama] Michelle Obama.