MARCELO NINIO
PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – Depois de colocar as Forças Armadas na mira de sua campanha anticorrupção, o governo da China anunciou que os gastos em defesa crescerão menos este ano, mas ainda num ritmo que assusta os vizinhos. O orçamento militar terá um acréscimo de 10,1% em 2015, menos que os 12,2% do ano passado.
Segundo a imprensa oficial, é o menor crescimento dos últimos cinco anos.
Sem dar detalhes, o plano de gastos em defesa foi revelado nesta quinta (5), na abertura do Congresso Nacional do Povo (CNP), o mais importante evento do calendário político chinês.
Apesar da queda, o aumento do orçamento militar manterá o ritmo de dois dígitos dos últimos anos e será superior ao crescimento econômico. Em meio à desaceleração da segunda maior economia do mundo, o governo reduziu a meta de uma expansão do PIB de 7,5% no ano passado para 7% em 2015.
Abrindo um evento cuidadosamente coreografado, o premiê chinês, Li Keqiang leu um discurso de 40 páginas, em que exaltou o investimento nas Forças Armadas.
“A construção de uma defesa nacional sólida e de Forças Armadas poderosas constitui a garantia fundamental para salvaguardar a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento do Estado”, disse Li aos 3 mil membros do Parlamento, que serve para confirmar as decisões da liderança.
O fortalecimento militar chinês é motivo de permanente preocupação dos EUA e dos vizinhos, principalmente os que tem disputas territoriais com Pequim, como Japão, Filipinas e Vietnã.
Os gastos em defesa da China dobraram desde 2006. Grande parte do investimento voltado para a Marinha, em linha com a disposição do país de reforçar sua presença no mar do Sul da China, onde estão os territórios disputados, e de criar uma “Rota da Seda Marítima” pelo oceano Índico.
A China afirma que a preocupação com seu crescimento militar é um exagero, sobretudo se comparado ao de outros países. Os gastos em defesa per capita da China chegará este ano a US$ 61.800, contra US$ 416.666 dos EUA e US$ 168 mil do Japão, argumenta o general da reserva Xu Guangyu.
“Enquanto isso, alguns veículos de mídia ocidentais fazem sensacionalismo e apresentam os gastos militares da China como uma ameaça”, escreveu num artigo publicado pelo jornal “Global Times”.
O anúncio do orçamento militar ocorre enquanto o governo comunista intensifica o seu cerco anticorrupção nas Forças Armadas. No início da semana, foram divulgados os nomes de 14 generais que estão sendo investigados por corrupção.
Entre eles está Xu Caihou, ex-subcomandante das Forças Armadas, o militar de mais alta patente já processado, que foi detido. Segundo a imprensa chinesa, o volume de jade, ouro e dinheiro encontrado no porão da casa dele era tão grande que foram necessários dez caminhões para remover tudo.
Em janeiro, 16 generais já haviam sido postos sob investigação por suspeita de desvios, numa sequência que se fortaleceu no ano passado e está sendo considerada a maior faxina nas Forças Armadas chinesas das últimas três décadas.
No caso mais recente, o jornal “South China Morning Post” noticiou nesta quinta a prisão de outro general, Xing Yunming, chefe de uma das agências de inteligência militar da China.