Povo X governo. A sociedade brasileira esteve sempre dividida entre os que detêm o poder (imperador, ditador, presidente) e o restante da população. Por isso, os cidadãos parecem não se importar com o que acontece no governo, comandado por nossos políticos. Resultado: percebemos que as pessoas acreditam que, ao pagar corretamente os impostos e escolher seus governantes, a sua parte já está feita.
Como a maioria ganha pouco ou trabalha informalmente, muitos brasileiros acabam ficando de fora da faixa dos que são obrigados a pagar o imposto de renda e não percebem que pagam 40% de tributos sobre tudo o que consomem. Mais recentemente, porém, o sentimento de revolta e indignação tomou conta dos cidadãos, já que nossos políticos estão perdendo a noção do ridículo. De um lado, os governos aumentam os impostos alegando a falta de verba para manter a máquina. De outro, percebemos uma série de absurdos, como o aumento de salários, cargos e mordomias para os políticos.
Um exemplo é o Congresso Nacional, que discute o aumento da contribuição dos brasileiros enquanto cria benefícios como a verba para a passagem de cônjuges de deputados(as) que viajam para Brasília. Juízes debatendo o auxílio-moradia – e pleiteando por receber retroativo – e professores acampando em frente ao Palácio e ao Tribunal de Contas exigindo melhoras para a educação. Nossos deputados, que já têm seus salários aumentados em mais de 30%, perderam completamente a noção.
Decididamente, estamos melhorado como sociedade. Já percebemos mobilizações, pessoas interessadas em sair às ruas para exigir respeito com nosso dinheiro, juízes antes “intocáveis” sendo punidos por utilizar um veículo apreendido com a maior cara de pau, magistrados levando corruptos e ladrões para julgamento. Agora sim caminhando para um futuro promissor, mas na velocidade brasileira, que é diretamente proporcional à capacidade de indignação das pessoas – e o brasileiro é um povo ordeiro, que não quer violência nem quebra-quebra. Em qualquer outro país, por muito menos as pessoas saem às ruas e quebram tudo. Aqui, ainda discute-se reivindicação X depredação (mas qual a diferença de roubar dinheiro da merenda escolar ou de medicamentos, enquanto pessoas passam fome ou morrerem, e quebrar “palácios” que servem apenas para ostentar um poder e abrigar o ego de políticos sem escrúpulos?).
Realmente, os governantes perderam a noção do ridículo. E não podemos nos deixar enganar, pois eles não farão as mudanças necessárias sem pressão e mobilização social. Precisamos de uma reforma política urgente e, para isso, será necessário muita pressão do povo.
Ademar Batista Pereira é educador, diretor da Escola Atuação e articulista do site www.esominhaopiniao.com.br