ALEX SABINO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O gol fora de casa como critério de desempate surgiu na Holanda, em março de 1965. No aniversário de 50 anos da partida que detonou a criação do que ficou conhecido no Brasil como “gol em dobro”, a regra é contestada na América do Sul e Europa. E há pressão para que a Uefa, que organiza a Liga dos Campeões, a revogue nos próximos anos.
“Não creio que seja algo que faça sentido aqui na América do Sul ou lá fora. Deveria mudar”, afirma Alejandro Sabella, técnico vice-campeão do mundo com a Argentina na Copa do ano passado.
Na próxima reunião de estudos técnicos da Uefa, que deve acontecer em 2016, o assunto será debatido. Como qualquer mudança que acontece no esporte, é algo que vai levar tempo para entrar em vigor. E como costumar ocorrer, será copiado tempos depois pela Conmebol, a entidade que comanda o futebol na América do Sul.
Na Libertadores, por exemplo, o gol como visitante também serve como desempate. Menos na final.
“Fazer um gol fora de casa tem peso fundamental em um confronto de mata-mata e nem sempre é justo. Deve ser realmente debatido”, defende Levir Culpi, que comandou o Atlético-MG no título da Copa do Brasil no ano passado com viradas dramáticas sobre Corinthians e Flamengo exatamente por ter tido a defesa vazada no Mineirão.
Nas oitavas de final da Liga dos Campeões deste ano, Arsenal e Chelsea (ambos da Inglaterra) caíram por causa deste critério, diante de Monaco e Paris Saint-Germain (franceses). Arséne Wenger, técnico o Arsenal, é um dos críticos mais ferrenhos do gol fora de casa como fator decisivo. “Não é porque fui eliminado assim. É uma regra ultrapassada que deve ser mudada. Luto por isso”, disse.
Não é uma voz pregando sozinha no deserto. Andy Roxburgh, que foi diretor técnico da Uefa por oito anos, Sir Alex Ferguson (ex-Manchester United) e até o presidente da Fifa, Joseph Blatter, já mostraram restrições. “É hora de rever este sistema”, pediu o cartola, em sua coluna na publicação Fifa Weekly Magazine.
HISTÓRIA
A “culpa” pela regra do gol fora de casa é de Liverpool (ING) e Colonia (ALE). Os times se enfrentaram pelas quartas de final da Copa da Europa 1964-1965 e empataram em 0 a 0 na Alemanha e na Inglaterra. Um terceiro confronto foi marcado para 24 de março, em Rotterdam, na Holanda. Terminou 2 a 2.
Como não queriam um novo jogo, os dirigentes decidiram que a melhor forma de resolver a questão era jogar uma moeda para o alto e ver quem levaria a melhor no cara ou coroa. Deu Liverpool. Os alemães ficaram indignados.
Na temporada seguinte, o torneio passou a adotar a norma de que, em caso de igualdade no número de pontos e saldo de gols, se classificaria a equipe que anotou mais vezes fora de casa.
“Na época, foi interessante. Porque incentivava os visitantes a não ficarem tanto na defesa e tentarem o gol. Surtiu efeito”, disse Roxburgh.
O “ultrapassado” dito por Wenger é porque o futebol mudou. A maioria das equipes atua em velocidade no contra-ataque e o critério de desempate passou a fazer com que os clubes mandantes tenham medo de serem ofensivos demais e acabarem surpreendidos.
“Se você faz o primeiro jogo em seu estádio e fica no 0 a 0, não é resultado ruim”, opina José Mourinho, que conquistou a Liga dos Campeões de 2004 por conseguir arranjar um gol nas partidas fora de casa.
Ele foi um dos eliminados no torneio neste mês por ter empatado em 2 a 2 com o Paris Saint-Germain. O último gol sofrido foi na prorrogação.
“Isso faz com que o visitante tenha mais 30 minutos para marcar um precioso gol fora e se classificar por causa disso”, completa Blatter, criticando.