SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com a alta acumulada de quase 21% do dólar nos três primeiros meses do ano -o melhor primeiro trimestre para o dólar desde o mesmo período de 1999-, os fundos cambiais lideraram o ranking de aplicações da Folha de S.Paulo. O levantamento computa o desempenho no período e desconta Imposto de Renda. Vale destacar que, quando há perda, o IR não é cobrado.
Os fundos cambiais tiveram valorização de 17% no trimestre (após desconto de IR, que é de 17,5% na categoria). Em 12 meses, a alta foi de 31,28% (sem IR). O produto, que costuma ter custos elevados de taxa de administração, é uma alternativa para diversificação de investimentos e de proteção para pessoas com despesas em dólar.
No sentido contrário, a poupança -tanto para depósitos até 3 de maio de 2012 quanto após essa data- teve o pior desempenho no trimestre, com valorização de 1,75%. Em 12 meses, o ganho da poupança também ficou na lanterna dos investimentos, com avanço de 7,12%. A caderneta é isenta de IR.
A inflação medida pelo IPCA (índice oficial) é de 2,48% no ano até fevereiro e de 7,70% em 12 meses, também até fevereiro. Para março, a projeção é de 1,40%, de acordo com o mais recente boletim Focus, do Banco Central.
Além do desempenho no trimestre, que ajuda a identificar as principais influências sobre os investimentos nesse período, o retorno em 12 meses é considerado por refletir o comportamento dos investimentos em um prazo maior, corrigindo eventuais oscilações de curto prazo. Manter uma aplicação por pelo menos um ano também reduz a alíquota de IR a pagar.
Para tomar uma decisão de investimento, não deve ser levada apenas em conta a rentabilidade passada, pois, como bem alertam os informativos de fundos e outras aplicações, ela não é garantia de rentabilidade no futuro.
DÓLAR
Em 12 meses, a moeda americana registra valorização de quase 42%. Para Carlos Pedroso, economista sênior do Banco de Tokyo-Mitsubishi, as dúvidas sobre o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos pesaram, assim como a crise política que o país vivenciou, após um embate entre Congresso e governo em torno da aprovação das medidas de ajuste fiscal.
“As idas e vindas da questão política acabaram afetando o mercado, principalmente com a devolução da medida provisória da desoneração da folha de pagamentos. Mas o mercado ficou à espera de uma indicação do Fed (banco central americano), que acabou não acontecendo”, ressalta.
Um aumento dos juros deixa os títulos americanos -considerados de baixo risco e cuja taxa de remuneração acompanha a oscilação do juro básico- mais atraentes aos investidores internacionais, que preferem aplicar seus dólares lá a levar os recursos para países de maior risco -como emergentes, incluindo o Brasil.
Diante da perspectiva de entrada menor de dólares no Brasil, o preço da moeda americana sobe.
A questão fiscal volta ao foco dos investidores nas próximas semanas, diz Pedroso. Em abril devem ser votadas no Congresso duas medidas provisórias envolvendo os ajustes. “Se houver dificuldades nessas aprovações, o câmbio vai estressar e subir. Mas se a solução for positiva, o dólar pode cair”, destaca.
Apesar da alta dos fundos cambiais no mês e em 12 meses, a aplicação é indicada para quem tem alguma despesa em moeda estrangeira ou uma viagem agendada, por exemplo, e quer se proteger da oscilação cambial.
BOLSA
A Bolsa fechou com alta de 2,3% no trimestre, enquanto em 12 meses o avanço é de 1,46%. O Ibovespa seguiu o fluxo dos mercados internacionais, devido ao ressurgimento de preocupações de que a Grécia não consiga alcançar um acordo para desbloquear parte do dinheiro necessário para pagar parte de suas dívidas.
Pesou também no trimestre possibilidade de o Brasil ser rebaixado por agências de classificação de risco, lembra Figueredo. Em março, a Standard & Poor’s (S&P) anunciou que manteria a nota de crédito do país. Isso significa que o Brasil continua sendo considerado bom pagador.
“O mercado não andou. Houve dois momentos mais claros: o primeiro, mais assustador, de percepção do investidor que a economia estava ruim e que a coisa poderia ficar pior ainda”, diz Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora. “E o segundo momento em que o governo reconheceu os momentos ruins da economia e tentou colocar os ajustes em práticas.”
Os ajustes continuarão no foco dos investidores, que também aguardam as decisões de outras duas agências de classificação de risco -Moody’s e Fitch- sobre a nota de crédito do Brasil, ressalta o analista.
OURO
A commodity teve alta de 21,10% no trimestre e de 30,64% em 12 meses. A alta do ouro no período se deve principalmente à valorização do dólar no Brasil, afirma Edson Magalhães, diretor da corretora Reserva Mais.
“Houve uma estabilidade nos preços do ouro no mercado internacional, mas aqui a valorização do dólar impulsionou o ouro”, ressalta.
Para investir em ouro, é possível comprar contratos negociados na BM&FBovespa, que são padronizados em 250 gramas. O grama hoje está R$ 122,80. Quem quiser comprar uma barra terá de desembolsar R$ 30.700. Há corretoras, porém, que oferecem contratos com quantidades menores do metal.
O metal é considerado uma opção segura de investimento e, por isso, é mais procurado em momentos de instabilidade no mercado financeiro, como o atual.
RENDA FIXA
O aumento do juro básico (Selic) favoreceu os fundos de renda fixa no trimestre, que tiveram valorização de 2,47% nos três primeiros meses do ano (após o desconto de IR), e os fundos DI, com ganho de 2,23% (após IR) no período. Em 12 meses, as altas foram de 9,93% e 9,41%, respectivamente.
Esses produtos aplicam em títulos cuja remuneração acompanha a tendência do juro básico, ou que estão atrelados à própria Selic.