Palco de intercâmbio de informações, discussões políticas, realização de contatos pessoais e profissionais e principalmente de (super) exposição da vida privada, as redes sociais exercem papel central na sociedade atual. Só no Facebook eram 1,35 bilhão de usuários mensais no terceiro trimestre de 2014, segundo balanço divulgado pela própria empresa. Já o Instagram, rede social baseada na publicação de fotos, atingiu a marca de 300 milhões de usuários em dezembro de 2014.

A realidade é que, especialmente os jovens da atual geração, desconhecem a vida sem internet. Viver sem o inseparável smartphone parece algo impensável. É isso que Michael Harris, jornalista canadense, discute em seu livro “The End of Absence”, lançado em 2014.
Não há dúvidas quanto aos benefícios trazidos pela web: a facilidade para acessar informações e a comunicação instantânea são alguns deles. Mas, para o psicólogo clínico Luciano Passianotto, deve-se ter cuidado ao dar credibilidade às informações. “Como o acesso é mais fácil e tendemos hoje a achar que toda resposta está a dois cliques, é possível que pesquisas rápidas e superficiais resultem em respostas igualmente superficiais, incompletas ou mesmo erradas”, explica.
Frustração — Estar conectado, expor a vida privada, publicar selfies e receber curtidas são alguns dos pilares que sustentam as redes sociais. Para a professora Maria Helena Saleme, psicóloga e psicanalista do Instituto Sedes Sapientae, nem sempre a exposição feita na internet revela uma situação real — as pessoas criam uma espécie de personagem para agradar os seguidores. O motivo principal seria evitar decepções. Encontros verdadeiros sempre frustram a gente, diz. E esse imaginário não frustra.
Segundo Passianotto, a velocidade proporcionada pela internet gera um imediatismo que afeta também as relações sociais e a vida fora da rede. “Pessoas são requeridas a atender a ligações ou mensagens de forma quase instantânea para evitar a impressão de que não estão ignorando algo ou alguém”, alerta Luciano Passianotto.
Segundo ele, até mesmo a relação entre pais e filhos é colocada em risco, já que os filhos passam a acreditar terem tanto ou mais conhecimento que os pais. “[Os filhos] Acreditam que seu nível sabedoria é igual ou mesmo superior ao dos pais, diminuindo a importância que dão às suas recomendações”, diz o especialista.

O que importa é a forma, não o conteúdo

Outra característica comum nas redes sociais é o interesse pela vida das celebridades, que chegam a atingir milhões de seguidores. O interesse é anterior às redes, mas é potencializado por elas, pois é possível seguir seus passos, curtir suas fotos – que revelam sempre momentos alegres, festas, encontros. A psicóloga afirma que esse interesse revela uma outra característica da nossa sociedade: a necessidade de ser feliz.
Não temos lugar para tristeza, para ficar sozinho, isso ficou como algo negativo, afirma Maria Helena Saleme. O que acontece com os famosos? Existe uma imagem e as pessoas acreditam que eles são do jeito que a imagem mostra. Em geral, são ricos, bonitos. É isso que eu quero ser.
Mas o interesse pela vida das celebridades se estende também a anônimos, que ganham notoriedade devido à sua beleza. São muitos os exemplos de pessoas que, antes anônimas, passam a ser famosas devido às redes sociais. Para a psicóloga, isso demonstra que o que importa é a forma, e não o conteúdo.


FRASE

A forma como as pessoas interagem com o mundo está mudando, de forma natural em termos sociais e culturais, só que em um compasso mais rápido e global. Pessoas saudosistas ou melancólicas podem achar que isso é negativo, enquanto progressistas e amantes da tecnologia acharão positivo. Não há certo ou errado, há o diferente. E quanto mais as pessoas se adaptarem a essa nova realidade, mais farão parte da nova sociedade

do psicólogo clínico Luciano Passianotto


Números da web

– Os brasileiros passam, em média, quatro horas e 59 minutos por dia na internet durante a semana e quatro horas e 24 minutos nos fins de semana, segundo a Pesquisa de Mídia Brasileira 2015, divulgada no fim do ano passado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

– O Facebook tinha 1,35 bilhão de usuários mensais no terceiro trimestre de 2014

– 53% dos brasileiros acessaram a web ao menos uma vez nos últimos três meses

– O Brasil tinha em 2013 mais de 86,7 milhões de usuários de internet com 10 anos ou mais

– Em Curitiba, a internet está em 62% das residências da Capital, segundo dados de 2012