Mont-St-Michel, Lisieux, Paray-le-Monial, Rocamadour, Le Puy-em-Velay, Ste-Anne d’Auray, Chartres, Lourdes. Nove Santuários na França, cada um deles oferecendo a fórmula Pèlerinage d’un jour, que permite ao peregrino a descoberta de cada santuário no que eles têm de mais essencial. Semana Santa é um bom período para entrar em contato com os santuários franceses.

Turista ou peregrino, as portas dos santuários estão abertas para recebê-lo durante o ano todo. Cada lugar tem suas comemorações especiais que acontecem uma ou várias vezes no ano, com celebrações rituais ou encontros de peregrinos.

A estrutura de acolhida e de hospedagem, o ambiente natural, histórico e turístico, transformam a viagem em uma experiência única, espiritual ou contemplativa. Quem organiza tudo é a Association des Villes-Sanctuaires em France, que reúne os escritórios de Turismo de cada região, tendo como objetivo comum o bem estar e o melhor aproveitamento no roteiro escolhido pelo visitante, viajando sozinho ou em grupos.

ROCAMADOUR
Rocamadour tornou-se um dos lugares mais famosos como centro de peregrinação, depois da descoberta em 1166 de um antigo túmulo e sepulcro, com o corpo ainda conservado, que se acredita ser de São Amador, um eremita do início do cristianismo.

Milagres foram atribuídos ao Santo e anunciados pelo sino sobre a Virgem Negra e o Menino, na capela de Notre Dame. Nos séculos 17 e 18 as peregrinações foram ficando mais escassas, o que não impediu que no século 19 a cidade fosse restaurada.

Hoje a região de Rocamadour, situada sobre um pico rochoso acima do vale de Alzou é procurada pelos turistas pela beleza local. O aglomerado de casas medievais, torres e muralhas fica ainda mais bonito com os primeiros raios de sol da manhã, dando a impressão de que o conjunto todo brota diretamente do rochedo.

Os peregrinos encontram a Cruz de Jerusalém e 12 estações reproduzindo a Via Crucis, na escalada pela colina até o castelo, que fica dentro de um forte que protegia o lado oeste do santuário. A tumba de São Amador guardava o corpo do eremita, chamado roc amator—amante das rochas, de quem a cidade tomou o nome. O santuário mais respeitado de Rocamadour é a Chapelle de Notre Dame, onde o corpo do eremita santo foi encontrado. No altar principal fica a escultura da Virgem Negra, o objeto supremo de culto e veneração.

MONT ST. MICHEL
Um dos principais cartões postais da França, o Mont St. Michel, na ilha Mont Tombe ( Túmulo na Colina), agora ligada por passarela ao continente, fica na foz do rio Couesnon. O ponto de atração é a imensa abadia fortificada. Mont St.Michel tem posição estratégica na fronteira entre a Normandia e a Bretanha. Passou de humilde oratório no século 8º para mosteiro beneditino e teve o ponto alto de sua influências nos séculos 12 e 13. Os peregrinos – chamados de miquelots – viajavam para cultuar St. Michel e o mosteiro era o centro da cultura e instrução na Idade Média. Depois da Revolução, a abadia foi transformada em prisão. Hoje é monumento nacional, atraindo mais de 850 mil visitantes ao ano.

As marés na baia do Mont St. Michel são muito fortes e funcionam como uma defesa natural, subindo e baixando conforme o calendário lunar. Na primavera podem atingir a velocidade de 30 km/h.

O caminho dos peregrinos percorrido desde o século 12, a Grande Rue, é agora o caminho dos turistas, com todos os espaços lotados por restaurantes, lojinhas de souvenirs e bares. O caminho passa também pela Eglise St. Pierre e vai até os portões da abadia.

PARAY – LE- MONIAL
A Basilique du Sacré-Coeur, dedicada ao culto do Sagrado Coração de Jesus, fez de Paray-le-Monial um dos locais mais importantes e peregrinação na França moderna. O culto foi iniciado por Marguerite-Marie Alacoque, nascida em 1647. Mas só ganhou destaque no século 19. A igreja é uma pequena versão da que foi a igreja-abadia de Cluny, um bom exemplo de arquitetura românica.

O Musée de la Faïence, no claustro, exibe alguns belos exemplares da porcelana Charolles, do século 19, sempre com decoração pastoral. Outro ponto do roteiro é o Musée du Hiéron, de arte sacra.

LISIEUX
Pays d’Auge é um clássico campo normando, com prados, vales, bosques, pomares de maçãs, fazendas de gado leiteiro e casas senhoriais. A atração é a catedral e Santa Teresa de Lisieux, canonizada em 1925, visitada por mais de 100 mil peregrinos todos os anos. É da capital que os turistas exploram a região, com cidades-mercados próximas, como St. Pierre-sur-Dives e Orbec.

Para conhecer melhor o Pays d’Auge é melhor escolher as estradas secundárias. Dois caminhos turísticos sinalizam locais de venda de sidra (vinho feito de maçãs), queijos, e as casas de fazendo, mansões e castelos, testemunhas de um passado de riquezas provenientes da terra fértil.

NEVERS
Como todas as cidades da Borgonha que encaram o Loire, deve-se chegar a Nevers pelo lado oeste do rio, para ter uma visão perfeita da paisagem. Foi muito danificada durante a Segunda Guerra Mundial. Peregrinos e turistas chegam até ela para ver a Eglise St. Etienne, românica do século 11 e a série de capelas ao seu redor. Na cripta da Catedral de St. Cyr, gótica, há um belo trabalho do século 15, o Sepultamento.

A soberania de Nevers passou para a família italiana Gonzaga no século 16, responsável pela chegada de artistas mestres na fabricação de faiança e vidraria. Hoje a cerâmica moderna mantém as cores tradicionais do verde, azul, amarelo e branco. Os vários museus devem entrar no roteiro.

LE PUY-EN-VELAY
Localizada na base de um vulcão, a cidade parece ter três picos de basalto e pedras, cada um deles marcado por uma igreja ou uma estátua. O conjunto é um dos mais belos do país. Hoje a cidade é industrial, mas também é considerada Cidade Santa, local de peregrinações desde que o bispo de Le Puy, Gotescalk, fez o caminho de Compostela em 962 e depois construiu a Chapelle de St. Michel d’Aiguilhe.

Peregrinos da França e da Alemanha se reúnem na Catedral de Notre Dame, com a famosa Madona Negra a pedra da febre, uma pedra do ritual druída, com poderes de cura, que está incrustrada em uma das paredes da catedral imensa, românica, com fachada semelhante a um tabuleiro de xadrez, mostrando as influências da Espanha moura, quando do intercâmbio que aconteceu na França meridional nos séculos 11 e 12.

A Chapelle St. Michel d’Aiguilhe surge no alto da rocha como um dedo apontando para os céus e para chegar até ela é preciso escalar 268 degraus íngremes. Dizem que a igreja está localizada no lugar de um templo romano dedicado a Mercúrio.

Na cidade baixa, com ruas estreitas e casas dos séculos 15 e 16, são procurados os jardins de Vinay e o Musée Crozatier, com acervo de rendas e rendados feitos à mão no século 16, além de objetos de arte medieval e pinturas do século 15, com obras de Rubens, Heem e Ruysdael.

Em meados de setembro Puy se transforma para o Carnaval renascentista, vestindo fantasias e usando máscaras no Festival Pássaro-Rei, criado para celebrar os melhores arqueiros da cidade.

LOURDES
Um dos maiores santuários da Europa, Lourdes deve sua fama às visões da Virgem por uma menina camponesa de 14 anos. Bernadette Soubirous, em 1858 fez com que a cidade fosse tomada por peregrinos à procura de um milagre, uma cura, uma salvação. Mais de 4 milhões de visitantes ao ano percorrem as ruas para chegar até a missa ao ar livre em Lourdes e entrar na Grotte Massabielle, caverna onde ocorreram as visões. Ao todo foram 18 aparições da Virgem Maria na gruta.

Hoje cidade cresceu em torno do local, com hospedarias, restaurantes e, é claro, a venda de souvenirs e vidrinhos com água da fonte, que se acredita milagrosa.

Também faz parte das peregrinações a visita à casa da rua Petits-Fossés, onde morava a família de Bernadette. Quem não for movido pela fé, deve evitar Lourdes. Mas pode visitar na região as Grottes de Bétharram, para passeios subterrâneos de barco e de trem pelas cavernas. No Musée Pyrénéen, as exposições são sobre os alpinistas pioneiros da cadeia de montanhas.

CHARTRES
Charters tem a maior catedral gótica da Europa e muitas outras igrejas que não devem ser ignoradas. Para quem gosta de visitar igrejas, é bom ter no roteiro a abadia beneditina de St. Pierre, com vitrais medievais; St-Aignan, encostada em baluartes do século 9º ; a Elgise de St. André, antes românica, que foi transformada em palco para exposições de arte e shows de jazz.

Ao lado da catedral, visita importante é ao Musée des Beaux-Arts, com acervo de tapeçarias, quadros de Fragonard e exposições temporárias. Chartes fez parte de um dos primeiros projetos de conservação urbana da França, possuindo muitas casas em enxaimel, ruas com calçamento de pedras (como a rua Ecuyers), escadarias íngremes, chamadas de tertres, que levam ao rio Eure. Onde ficam moinhos, curtumes medievais, pontes de pedras arqueadas, espaços para lavar roupas antigos. E a catedral.

Um sítio arqueológico foi transformado em museu, abrigando as ruínas da cidade galo-romana. Para os entendidos, a catedral de Chartres é a melhor expressão da Idade Média. Foi iniciada em 1020 como catedral românica, mas foi destruída por um incêndio em 1194.

Apenas a torre sul, fachada oeste e a cripta ficaram de pé. No interior, a relíquia véu da Virgem foi o único tesouro intacto. Camponeses e nobres reconstruíram a igreja em apenas 25 anos. Foram poucas as modificações depois de 1250. Chartres foi poupada pelas guerras religiosas e pela Revolução. A catedral é considerada uma bíblia de pedra.

Nada supera o impacto da visão dos vitrais doados pelas guildas entre 1210 e 1240. São mais de 150 painéis mostrando histórias bíblicas e o cotidiano do século 13. A melhor maneira de apreciar detalhes é levar um binóculo para a visita. Durante as duas grandes guerras, os vitrais foram desmontados peça por peça e guardados. Alguns foram restaurados e remontado na década de 70. Mas é um trabalho sem fim.

Cada vitral está dividido em painéis e devem ser lidos da esquerda para a direita e da base para o topo. O número de figuras ou de formas abstratas utilizado é simbólico: o 3 é da Igreja, os quadrados e o 4 simbolizam o mundo material ou os quatro elementos e os círculos são a vida eterna. Os vitrais cobrem uma superfície de 3.000 metros quadrados e o destaque principal é o azul forte, único, chamado de azul de Chartres.