Se os gregos de hoje são híbridos, dilacerados entre a origem e a longa influência de quatro séculos de dominação turca, decisiva do oriente, e também a mistura de raças, são os fatores que levaram o mais famoso grego do século XX a escrever: Ao olhar para os mercadores, os lavradores, as donas de casa, os proprietários das casas, seus modos, suas ações e reações, eu luto para discernir as duas correntes que constituem a alma gêmea, nascida duas vezes, do grego moderno. E pergunto com fascinação se em algum lugar, alguma vez, chegaram a uma síntese.

Assim, contemplando a Argólida, dirijo-me a Corinto, revendo mentalmente os principais atributos do antepassado local: amor à vida, serena coragem diante da morte, cultivo do corpo, harmonia da carne e da mente, amor à liberdade, um ardente e alegre apego à terra, sem pensar numa vida além da morte. E, opostos a estes, enumero os atributos dos ancestrais bizantinos e orientais: teocracia, feudalismo, horror à vida, vaidade, pessimismo, misticismo; desprezo pela vida terrena e anseio em deixa-la, em troca de um mundo melhor.

Fotos: Dayse Regina Ferreira

Na principal atração de Atenas, o encontro com a história da humanidade

O que este grego de dupla descendência tem do pai e da mãe? Procuramos nossa nova alma na poesia que se faz hoje na Grécia, em nossas danças folclóricas, em nossos bordados e nossa música, na arquitetura da casa grega, em nossos costumes, comemorações, provérbios, superstições e na nossa própria língua. E deparamos com as duas torrentes, a grega autóctone e a oriental, fluindo lado a lado, sem nunca juntar-se, às vezes chocando-se com fúria e só muito raramente correndo juntas em união orgânica.

O grego moderno ama a vida e teme a morte, adora sua pátria e é simultaneamente um individualista patológico. Adula seus superiores como um bizantino e atormenta seus inferiores como um aga turco, no entanto está disposto a morrer por sua filotimo—sua honra –, seu amor próprio.


Cariatides: a maioria, cópias. Para ver as verdadeiras é preciso ir aos museus de Paris, Londres

A raça grega, em seus milênios de história, ao atingir o fundo o abismo, diz Kazantzakis, mobiliza todas as suas qualidades e, de um só golpe, sobe de novo a rampa, sem parar, até atingir o ápice da salvação. Esta ascensão abrupta rumo às alturas, negada pela lógica, é chamada de o milagre grego.

O ESPÍRITO GREGO É ETERNO
Kazantizakis conclui: o espírito da Grécia não morreu. Transmigrou para outras paragens: – Florença, no Renascimento, nas obras de Michelangelo e Leonardo da Vinci, de Donatello e Botticelli. A suprema liberdade voou da mente de Platão, como Palas Atenéia, e brotou da cabeça de Zeus. Disseminou-se por toda a Europa. Na França deu origem aos jardins simétricos de Versalhes e depois aos ideais de Fraternidade, Igualdade e Liberdade , na Revolução de 1789.


Pedaços de uma beleza eterna

Atravessando o Canal da Mancha, foi levar democracia para o Parlamento inglês, nas margens do Tâmisa. Aí cruzou oceanos e fez renascer na terra de Lincoln novos ideais. Os mesmos de Tiradentes e dos inconfidentes mineiros, sonhando com uma pátria livre aqui, no Brasil português.

Na Grécia a civilização nasceu no momento em que a vida preencheu suas necessidades imediatas e começou a gozar de um pouco de repouso e de alívio. Lá os deuses são mortais, lutam entre si ou contra a humanidade: Poseidon agita os oceanos com violência, para derrotar Ulisses, o audacioso, fazendo seu navio perder o rumo e ficar vagando pelos mares, longe de sua Ítaca natal e de sua Penélope.


Péricles aguarda pelos visitantes do museu

Zeus, todo poderoso, arrebata a formosa Europa tomando a forma de um touro, se transforma em águia para dominar o príncipe Ganimedes e vira um cisne para possuir Leda. Hércules, por sua vez, combate a hidra de Lerna e realiza proezas sobre-humanas. Mas nas Olimpíadas, nos jogos atléticos, o grego aprendeu que mais importante é a disputa e não a vitória.

Para os atletas de Atenas, a meta era o aspecto corporal em equilíbrio perene e grego na essência: harmonia entre o corpo e o espírito, mente lúcida, arguta, ágil, membros igualmente ágeis, colocando o corpo a serviço da inteligência e a saúde como instrumento. Para que o homem tivesse conhecimento de seus próprios enigmas e limitações.


O novo museu arqueológico nasceu sobre as ruínas da antiga Atenas

Para o visitante, o turista que passa correndo pelas suas belezas, é preciso saber que a Grécia é um estado de espírito. Concilia intelecto e coragem, beleza e heroísmo, filosofia e dúvidas: é preciso ver tudo o que está debaixo da superfície. Tesouros.

APRENDA
Algumas palavras em grego, sempre ajudam. Essenciais, como parakaló, que quer dizer por favor. E efaristô, obrigado.


Bouzouki, instrumento sempre presente, acompanhando nostalgicas canções gregas

Para dizer sim, nem é preciso falar. Basta balançar a cabeça para baixo algumas vezes, balbuciando nê, nê. Em compensação, o não é ohí, aspirando bem o h, no fundo da garganta. No restaurante, peça o cardápio assim: catálogos, parakaló. A conta, diga logariasmós.

Fácil é chamar o táxi. É táxi mesmo. E garçom, é garsón. Quando atender ao telefone, não diga alô: dia embrós. Se alguém bater à porta do hotel, use a mesma embrós. Bom dia é kalimera, boa tarde kalispera, boa noite kalinikhta. Quanto custa é poso kostísi. E adeus é hêrete, com o há aspirado. Palavra que todos têm dificuldade de dizer, ao partir, porque a saudade será garantia para o resto da vida, da viagem com momentos inesquecíveis a um passado tão remoto, tão intenso e tão importante para a humanidade.


Amigos. Sempre haverá tempo para um copo de retsina, uma conversa, um pouco de música

COMIDAS E BEBIDAS
A comida é forte, natural, aromatizada com ervas. Grelhados de carneiro e de peixes e frutos do mar são a melhor pedida. Azeitonas são incomparáveis, e chegam junto com o aperitivo da bebida nacional, o ouzo , álcool de anis transparente que, em contanto com o gelo e a água, fica branco-leitoso.

A comida nacional é o carneiro, servido nos restaurantes e tabernas em pedaços, no espeto, suvláki, ou como carne moída também no espeto, que é o keftedes, igual ao shish kebab dos árabes. A influência da cozinha turca e árabe é muito grande, daí que um dos pratos principais é a folha de uva recheada, dolmadáksias.


O ouro da vaidade, uma mania que vem do passado

Queijo e manteiga com leite de cabra e ovelha, estão em todas as mesas. Peixes, frutos do mar e, para sobremesa, frutas saborosas como uvas, melancias, melão, são melhores opções para quem não aprecia sabores mais acentuados. O vinho por excelência é o retsina, misturado com resina de pinheiros. É uma delícia, mas é preciso ser iniciado. Mas há vinhos de todos os tipos, sendo os mais populares os brancos secos de Creta e de Olímpia , os moscatéis de Samos e Patras e o vinho tinto seco de Corfu.

A diferença entre restaurante e taberna: no primeiro o serviço é à la carte. Nas tabernas o cliente come o que foi preparado para aquele dia e é costume mesmo ir até a cozinha, para escolher a carne, o peixe e a entrada. Se o tempo estiver bom, as mesas vão para a calçada ou ficam debaixo de árvores centenárias, nas praças. Durante a noite o movimento é sempre intenso nas cidades maiores, com chance de ouvir alguém tocando buzúquia, guitarra grega.


Perfeição da beleza, na Antiguidade grega, copiada depois no Renascimento europeu

Nos restaurantes frequentados por turistas, há sempre um show com canções típicas e danças. Quando o homem dança sozinho, é o zembêkiki . Mais de dois ou em grupos, é o sirtáki (lembra de Zorba, o Grego?). O verdadeiro acontece de repente, quando alguém tem vontade de dançar, um costume tão antigo que se funde nas origens da dança. É raro a mulher levantar de uma mesa, para dançar.

Se ficar ansioso com tanta informação, beleza e história, compre um comboloy. É como um terço, com pedras enfiadas como contas em uma corrente fina, que estará sempre na mão dos homens, em todos os lugares: ruas, cafés, restaurantes, lojas, carros , trens, barcos, ônibus. Dizem que resolve todos os problemas, previne ataques do coração, evita suicídios, afasta o perigo do divórcio. Os vendidos para turista , agora são feitos com tiras de couro contas de plástico. Mas quem realmente entende do assunto e passa e o tempo mexendo com o comboloy nas mãos, vai copiar a grande atriz grega Melina Mercouri, que tinha um de ouro como companhia constante. Seja mais modesto: há peças lindas em prata, ou em contas negras com pequenos desenhos em prata. Os maiores, com pedras naturais, servem como decoração e boa lembrança.


Meteora, para ficar mais próximo dos céus

Aproveite que a primavera está começando e em breve será o calor do verão. Há roteiros organizados pelas operadoras, que servem no preço e no tamanho para qualquer desejo de evasão. É possível fazer cruzeiros de três, quatro ou nove dias, passando pelas ilhas do mar Egeu e principais atrações do país. Ou usar os nove dias para conhecer Atenas e dividir o restante do tempo entre as mais do que famosas ilhas – Mykonos e Santorini. Ou ainda, durante 15 dias, sair de Atenas para lugares históricos como Corinto, Epidaurus, Nauplia, Mecenas, Esparta, Mistras, Olímpia, Patras, Antirion, Delfos, Kalambaka, Meteora. Consulte seu agente de viagens ou peça informações para a Exqape, [email protected] ou acesse www.exqape.com br. Se procurar www.globus.tur.br também vai conhecer maneiras de desvendar os mistérios da Grécia.


Nos mosteiros de Meteora, jóias de arte produzida pela fé