BRUNO BOGHOSSIAN, ENVIADO ESPECIAL
UNA, BA (FOLHAPRESS) – Ex-presidentes de países da América Latina defenderam neste domingo (19) que o Brasil lidere uma maior integração comercial da região com os Estados Unidos. Em seminário no sul da Bahia, políticos da Bolívia, do Uruguai, do México e do Brasil –quase todos de oposição– apontaram que o Mercosul se enfraqueceu e que os países latinos devem rever suas posições em relação a acordos bilaterais no continente.
A presidente Dilma Rousseff fará uma visita a Washington em 30 de junho para um encontro com Barack Obama. O governo americano pretende “descongelar” uma série de acordos entre os dois países.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) criticou a política externa do governo Dilma e disse que o Brasil ficou à margem de um processo de fortalecimento das relações de países da América Latina com os EUA.
“Houve uma divisão na América Latina. Os Estados Unidos fizeram acordos bilaterais com todos os lados, mas o Brasil foi ficando isolado do ponto de vista de sua atividade comercial”, afirmou FHC. “Nós deveríamos expandir nossas relações e não ter medo de discutir com os Estados Unidos. O Brasil tinha medo da Alca [Área de Livre Comércio das Américas]. Agora não há mais motivo para ter medo.”
FHC declarou que a posição do Brasil em relação à integração regional representa uma “visão antiga”.
“Posteriormente ao governo Lula, houve uma espécie de encolhimento da visão que o Brasil tem de suas responsabilidades perante o mundo. É importante que nos situemos.”
Jorge Quiroga, presidente da Bolívia de 2001 a 2002 e adversário de Evo Morales, pediu que o governo brasileiro aproveite a visita de Dilma a Washington para mudar o eixo das relações latino-americanas com os Estados Unidos.
“Que o Brasil possa liderar uma real integração na América Latina. A integração do Mercosul é uma mentira, é falsa, não funciona”, disse.
“Estamos diante do cadáver do Mercosul. Este Mercosul de hoje, político, não é meu filho. Isso é outra coisa”, acrescentou o uruguaio Luis Alberto Lacalle (1990-1995), que assinou em 1991 o Tratado de Assunção, que deu origem ao bloco.
Os líderes latinos elogiaram o modelo do Nafta, o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio.
“O acordo comercial entre Estados Unidos, Canadá e México foi um enorme êxito, ao contrário do que pensavam aqueles que diziam que o México era pequeno e não estava preparado para essa relação”, afirmou o ex-presidente mexicano Vicente Fox (2000-2006).
*O repórter viajou a convite do 14º Fórum de Comandatuba.