RUBENS VALENTE E GABRIEL MASCARENHAS BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Agentes do núcleo anti-bomba da Polícia Federal fizeram uma varredura e cumpriram um mandado de busca e apreensão num apartamento da Asa Norte, área nobre de Brasília, na manhã desta sexta-feira (24). Ninguém foi preso. A PF não informou qual o objetivo da ação, que ocorreu na residência de um advogado e de sua mulher. A reportagem apurou, porém, que a operação está relacionada a uma investigação do departamento de Inteligência sobre terrorismo. A polícia ainda está apurando se os moradores têm ou não algum vínculo com células terroristas. Um policial disse que não poderia dar nenhuma detalhe por se tratar de uma operação “delicada e internacional”. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi informado pela PF sobre o cumprimento do mandado. Como o morador do apartamento é um advogado, as buscas foram acompanhadas pelo procurador de prerrogativas da OAB, Mauro Lustosa. De acordo com ele, cerca de dez policiais, parte deles com os rostos cobertos e acompanhados de um cachorro, apreenderam documentos, computadores e pendrives. Segundo Lustosa, os policiais informaram que estavam à procura de documentos supostamente falsificados. Os agentes chegaram à residência por volta das 8h30 e concluíram os trabalhos à 13h30. A legislação brasileira não contém um item específico que tipifique atos de terrorismo. Um projeto de lei sobre o tema está em tramitação no Congresso, mas sem data para ser votado. A ausência de uma lei para determinar o que deve ser considerado terrorismo e as penas previstas para quem praticá-lo preocupam as forças de segurança e autoridades, entre outras razões porque o Rio de Janeiro sediará a Olimpíada do ano que vem. INTIMAÇÃO O representante da OAB contou também que o advogado chama-se Marcelo Bulhões, atua na área de Direito Internacional e estava em casa com sua mulher e o filho do casal, uma criança de colo. O advogado, porém, se auto-intitula Marcelo Salahuddin Bulhões. Numa rede social, ele publicou vídeos de saudações à comunidade muçulmana. Em uma das gravações, Bulhões apresenta seu filho recém-nascido. “Nesse momento de tristeza dos muçulmanos no mundo, com as provações que a gente passa, também é um momento de alegria com a chegada de novos muçulmanos”, afirma. Em 11 de setembro de 2013, o advogado enviou uma carta à senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), com documentos anexados, que, para ele, “demonstram a atuação de serviços de inteligência estrangeiros em território nacional”. “Há fortes indícios de que vários cidadãos brasileiros de origem árabe e/ou de confissão islâmica tenham sido objetos de investigação por parte de órgãos de inteligência nacionais e estrangeiros”, escreveu. Num outro trecho, Bulhões afirma que “presenciou interferência de serviços estrangeiros na atuação de órgãos do governo federal, dentre os quais é possível destacar o Departamento de Polícia Federal, do qual o subscritor foi servidor”. A reportagem ligou para os números de telefones que Bulhões enviou à senadora. Em um deles, uma mulher disse que o advogado não estava e pediu que a reportagem não voltasse a fazer contato. ESCLARECIMENTO Bulhões recebeu uma intimação para prestar esclarecimento na Superintendência da Polícia Federal de Brasília, ainda de acordo com Mauro Lustosa, mas ainda não foi definida a data em que comparecerá. O procurador da OAB disse que os policiais agiram com cordialidade e, a pedido do morador do apartamento, não entraram no imóvel antes de a mulher do advogado vestir uma burca. “A mulher ficou segurando o bebê no colo e estava muito nervosa, chorando. Por isso, ele preferiu ficar cuidando da família e não atender à intimação hoje”, justificou Lustosa. Apesar de ação ser tratada com extremo sigilo, havia um caminhão do núcleo anti-bomba da PF estacionado em frente ao prédio, o que chamou a atenção dos moradores da quadra.